A NAMORADINHA DO PLANALTO
Percival Puggina
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Proponho aos leitores uma reflexão sobre a indigesta pauta que vem dominando o noticiário nacional: Renan Calheiros, as acusações que contra ele se acumulam e a conduta dos envolvidos no processo político que sucedeu à s denúncias da revista Veja.
Na frente da cena, tivemos o senador, suas relações empresariais, sua "namoradinha", o custeio das despesas decorrentes daquelas traquinagens, o excepcional valor do gado alagoano e por aí afora. Tudo muito constrangedor, acumulando indícios de importantes desvios de conduta pessoal. A grande mídia aferrou-se ao assunto e lhe conferiu tal relevo que acabou desatenta a algo bem mais grave atuando no fundo do palco.
Refiro-me à s articulações promovidas pela base do governo para evitar a cassação de Renan. Escàndalo, escàndalo mesmo, de arrepiar os cabelos de qualquer pessoa decente, foi o que aconteceu ali. Que ninguém se iluda: o presidente do Senado Federal só não foi cassado porque o governo ficou ao seu lado direito, ao seu lado esquerdo, acima e abaixo. Cercou-o de proteção por interesse próprio, olhos postos na parceria do PMDB e nos votos que ele, Renan, comandava no plenário da Casa para a manutenção da CPMF.
Esse imposto tornou-se a Mónica Veloso do governo Lula. Ele é a fonte dos prazeres políticos federais, acintosos à miserável abstinência de estados e municípios. Para seu oneroso sustento pagamos todos. Por eles se vendeu e se vende, como boiada, a honra nacional. A pergunta que fica ecoando é a seguinte: sob o ponto de vista político, institucional e ético, o que é mais danoso? O pecado individual do senador ou a atitude colegiada do governo e seus teleguiados? O erro de um ou o erro de tantos? A conduta de Renan ou os afagos de Lula e dos seus, que o proclamaram suficientemente digno de dirigir a Càmara Alta da república?
O recente pedido de licença de Calheiros mostra, novamente, a imoralidade das manobras articuladas no outro lado da praça. Examine os fatos e perceba que a reversão dos comportamentos foi determinada pela reação da opinião pública. Poucas e boas - aliás, muitas e ótimas - passaram a ser ouvidas pelos senadores e senadoras ao retornarem aos seus Estados. Tornaram-se, todos, titulares de mandatos sem respeito e de uma função apontada como inútil. A essas alturas, até o sujeito da banca de jornais instalada no Senado, enquanto desempacotava fardos e fardos da revista Playboy, sabia que só a derrubada da CPMF restauraria a imagem da Casa. Aí, e só aí, Renan tornou-se desconfortável ao governo. A escada foi retirada e o senador, seguro no pincel, escorreu com a tinta. Naquele açude, caros leitores, o alagoano é mero lambari.
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