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Cartas-->Através do espelho -- 21/05/2004 - 23:27 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






Através do espelho


Costumava me orgulhar de quem eu via no espelho. Era um garoto puro, sincero, honesto. E infeliz. E odiado, xingado, deprimido e marginalizado.
Entrei então na faculdade, e conheci o mundo. E quis ter amigos, e quis ser amado. E mudei, cresci, aprendi. Sai da casca, me tornei alguém passível de admiração. De longe, é claro. E droguei-me nos prazeres fáceis da vida. Consegui amigos. Amigos de verdade, amigos que te fazem procurar a virtude, mesmo sabendo que somos todos imperfeitos. E ganhei inimigos. Inimigos que sempre que podem te cutucam, te machucam. Inimigos que saiam de seu caminho para me incomodar.
Fugi de mim mesmo, encontrei um outro eu. Um Outro. Troquei o gel pelos cabelos compridos. A decência pela mentira. A virtude pelas vulgaridades. Sempre que saía, bebia e fazia bobagens. Aprendi que a ressaca não é só física, quanto moral. Odiava encontrar um de meus amigos depois de me acabado em alguma balada. Pois, por mais que soubesse que ele não deixaria de me querer, temia que eu pudesse ter feito algo errado. E pudesse ter errado com alguém que não merecia.
Comecei a sentir a necessidade dessas coisas. No começo, lembro-me bem, me esforçava por não beber de vez em quando: no dia em que não me divertisse sem beber, me preocuparia. Preocupo-me.
Busquei a podridão e chafurdei na lama da futilidade. Lembro-me de uma época em que sentia orgulho de quem eu era, uma pessoa verdadeira. Mas conheci a vida e a vida me fez um conhecido. Endeusei um mundo de superficialidade. Não me envolvi mais. Não conheci pessoas que valessem a pena. Na verdade, acho que elas não são muitas. Tornei-me um adicto. Foi então que me cansei e tateei pelo interruptor. Mas não o achei. Tornei-me uma sombra de mim mesmo, cada vez mais evanescente, cada vez mais amorfa. Tornei-me aquilo que sempre odiei.
E encontrei alguém. Alguém que poderia me salvar. Alguém que também tinha entrado pelos mesmos caminhos vazios e doloridos. Caminhos de prazeres instantâneos, gozos vazios. E encontrei esse alguém. Ela também era uma pessoa que se odiava em muitos momentos. Flores por fora, podres por dentro. E ela me mostrou que havia mais do que só essas vidas.
Mas eu era um adicto. E adictos têm recaído. Adictos demoram a aprender. Adictos sofrem as dores da abstinência. E quando aprendi, quando finalmente deixei o vício, não olhava mais para a pessoa que amava. Só via uma mão, e deixei de ver os olhos. Deixei de ouvir a boca e almejar os ouvidos. Vivemos vidas secretas, cada um há seu tempo. Cada um por seus motivos. E aprendi que vidas devem ser vividas, não escondidas. E na desilusão de não ser mais feliz ao meu lado, ela procurou aquilo que melhor conhecia. Um lugar sem responsabilidades, sem preocupações. Um caminho parecido com o alcoolismo. Um gole basta. Eu sei bem, é um caminho que eu encaro todo dia. E ainda não sei se posso escapar. Mas agora pelo menos eu sei. Sei que não quero viver sem amor, só de prazeres.
E acabou, e não somos. Fomos. Ou nunca fomos.
E me olhei no espelho. E chorei.



ft-NET/a.d.






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CARLOS CUNHA/o poeta sem limites

dacunha_jp@hotmail.com








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