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Contos-->Mistérios da existência humana -- 10/05/2017 - 16:48 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Essas coisas faziam parte de suas divagações na busca infinda por resposta aos mistérios da existência humana. ‘Se não há vida após a morte, em vão fora a vigilância para não perder a salvação. Os sacrifícios que fizera e a renúncia aos desejos da carne, tudo em vão. Também Chanana buscava salvar sua alma como náufrago à deriva, lutando contra a compulsão que a empurrava a banalizar o projeto de Deus para sua vida. A tábua de salvação seria confessar os pecados. E confessou. Contou que sonhava na cama com um homem, e para evitar interrogações, dizia logo que não via o rosto, embora  a vontade fosse de revelar que era o padre a figura masculina de suas elucubrações. Certo dia, durante uma confissão ela  quase vomitou e pediu que o sacerdote lhe desse logo a bênção ou a condenação eterna. 
— O Catecismo da Igreja nos ensina que ‘o pecado mortal só é consumado se houver pleno conhecimento e consentimento. ’  Os  sonhos são involuntários. Portanto, não há  pecado, quando não houver  deliberado desejo de pecar. Os sonhos vêm e se vão, sem representar,  necessariamente, significados relevantes. É preciso vigiar, no entanto, se eles  arrastam desejos alimentados em vigília, ainda assim, o pecado só se consolida com a prática do ato pecaminoso. Os sonhos são involuntários. Alguns podem manifestar a vontade divina, e não raro, a humana.
As palavras do sacerdote levou a penitente a recordar-se de seu sonho, manifesto no desejo de ser mãe.
— Estou grávida! — disse ela entre lágrimas.
— O  Didaqué precede alguns livros da Bíblia Sagrada, e é seguido desde que surgiram as  primeiras comunidades cristãs. Nele já se achava escrito há mais de dois mil anos: ‘Não matarás criança por aborto, nem criança já nascida...’
Ela nunca ouvira falar em Didaqué, e se impressionou ao ouvir a palavra aborto.
— Como pode o padre saber que ela pensava em abortar?
O padre continuou:
—  Não te afaste, pois desta doutrina que vem desde os tempos dos primeiros cristãos. Vá em paz, minha filha! — Disse após ministrar a absolvição dos pecados. 
Corina dizia que em Montes Claros, nove meses depois da safra do pequi, a Santa Casa ficava cheia de mulher parida, e não eram raros os partos duplos. Mito ou verdade? A TV apresentava documentário em que um médico afirmava: ‘Fatores hormonais podem contribuir para que a mulher grávida sinta mais desejo sexual durante a gestação...’ 
A aversão por coalhada deu lugar à vontade incontida de comer arroz com pequi.  Sabia que na casa da mãe, encontraria pequi congelado.
 — Por que desligou o televisor, cunhadinho?
— Achei que Dulcineia estava chegando da igreja.
— Tens pequi congelado?
— Não!
— Então vou fazer um assado de panela com sua panturrilha... 
— Assado de panela, cunhadinha!
Mal  Jeremias concluiu a frase, e  com um salto felino, ela mordeu. A índia mordeu a panturrilha dele. Sem medo, mordeu também a orelha e o que faltava  morder. O anjo da guarda fechou os olhos... A terra tremeu... Não dava mais para esconder uma gravidez de quatro meses. Nem  dizer que  engravidara de Vulcano.   Acreditava que Dulcineia não permitiria  que a irmã  fosse atirada do monte  Olimpo. Afinal,  embora postiça,  sempre fora boa irmã. Contara a Dulcineia da gravidez, com certa reserva e tinha  certeza  que provocara uma reunião em família.
No dia em que as irmãs confidenciavam seus segredos no quarto de casal, lá da sala, Jeremias fingia nada  ouvir e acabara perdendo alguns recortes da conversa,  entrecortada pela voz do leiteiro: ‘Olhe o leite... Olhe o ovo de galinha caipira!...Tudo fresquinho, chegado agora do .’
Chanana atende o leiteiro no portão.
Vozes de discursos passados fazem eco em sua mente: ‘Martiniano é casado, e mulherengo... Androceu, pelo menos é solteiro’. E acrescentava de sua parte: ‘castrado.’ Perguntas curiosas sobre a gravidez haveriam de surgir aos turbilhões... ‘Quem é o pai?’ E as respostas que ela arquitetava: ‘O falecido.’  Atordoada, parou debaixo da mangueira, que ainda não dava sombra. Era cedo. Hora de o leiteiro  entregar a encomenda: dois litros de  leite in natura, uma dúzia de ovos, rosca caseira e sementinha de coentro verde. 
Teve vontade que Androceu fosse o pai da criança. Mesmo porque, acostumara-se com ele. Com sua simplicidade no modo de cumprimentar as visitas, e não fazer sala. Aquele ir para a  cozinha, aquecer comida, encher a barriga  e se deitar. Em nada Androceu a perturbava, senão com bafo de bebida e de nicotina.  Distraída, nem vira o leiteiro se afastar, deixando uma sacola de pano, pendurada nas grades do portão. Ela guardou a encomenda de Corina na cozinha,  e vomitou só de pensar em coalhada...
***
Adalberto Lima, fragmento de estrada sem fim...
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 10/05/2017
 
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