Bondade e Caridade
José Periandro Marques
Publicado no jornal O POVO, dia 2 de março de 2003
A bondade, adquirida ou inata, é latente, espontânea, torrentes de energias dispersas nos átonos e ares, pronta para ser absorvida pela essência humana. Ao materializar-se, como ondas divinas, modifica elementos, situações e atitudes, embelezando e melhorando o mundo. Não discrimina cor, sexo, estética, posição social ou qualquer outra forma de manifestação da matéria. É corajosa no dever, no amor e na compaixão, discreta, solidária, prestativa, atuante, sábia e cordial, olente, penetrando nos recônditos da alma, onde úlceras as mais acerbas infelicitam-na, expurgando as imperfeições e maledicências, transmudando corações empedernidos, em vibrantes legionários da luz. É amiga, companheira, amena, não tergiversa, não ilude, não falseia, não corrompe nem compromete. É firme em suas convicções, alcançando a todos os que se libertam das amarras do rancor e do ódio.
A caridade é a bondade em ação, manifestada no auxílio ao necessitado de carinho, compreensão, afeto, fraternidade, saúde, educação, cultura, alimentação, e no apoio moral, elevando o espírito de quem se encontra sob forte tensão emocional ou espiritual. Ela balsimiza tormentos, asseia corpos tisnados, é tolerante, compassiva, não submete o fraco e não se expande no sofrimento alheio, porquanto é justa, meiga, singela e digna, podendo ser exercida entre os iguais e os diferenciados, ao exemplo de uma ama de leite que fornece seu alimento ao filho de uma favelada e para o descendente da patroa, sem promover diferenciações ou visar benefícios de quaisquer monta, assim exercendo a caridade plena, preservando e valorizando a vida no que tem de mais nobre: a constituição de seres saudáveis e a construção da dignidade; uma alimentação bem dosada é suporte para a manutenção de um espírito consciente e sereno.
Ser bondoso é construir a cada dia o novo, é saber perdoar-se e a seu semelhante, receber com carinho o necessitado, tratar com simpatia o próximo, ser prudente e paciente com as falhas alheias.
Ser caridoso é ensinar com doçura a corrigir falhas, transformar os remendos em nova roupagem, limpar armários, enxugar lágrimas, prensar feridas e amortizar decepções.
A bondade não incrimina, não humilha, não menospreza é centelha divina do ser; a caridade é o desdobramento da bondade em busca da perfeição.
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