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A FONTE DOS AMORES

Mais um Natal se foi
Pra mim em paz habitual
Mas nunca assim como agora
Fruí com profunda dimensão
O prazer da reflexão
Sobre os Natais que vivi outrora...

E tanto foi o íntimo enlevo
Que experimentei ao calor da lareira
Da velha casa de deserto cheia,
Que num exíguo verso e sem mais
Logrei o poema de todos os Natais:
2005 Meninos brincando à minha beira...

E pronto... Ceei e dormi com a saudade,
Bela mulher que para a minha idade
Sempre mais e mais se torna adequada...
Acordei como se renascesse e de novo
Vou embrenhar-me na carne do povo
No novo ano, toda a madrugada...

Vou devassar-me, esgostar miolos,
Atiçar os poros e em troca de consolos
Esquecer que pago tais favores...
Quem sabe se suando a doação
No mar em fogo que empolga a multidão
Uma vez mais descubra a fonte dos amores...

António Torre da GuiaO PESO DO TESÃO

Pois... Eu sei, o estigma é genérico,
Também já presumi que um zonzo velho
Não tinha direito algum para sonhar...
O engelhado, senil farrapo cadavérico
Não entrava em meu fulcral espelho...
Só eu tinha direito a fruir e a gozar...

Dáva-me vontade de rir e de troçar,
De abandalhar o calvo traste envelhecido,
Agarrado à cinta da esbelta mulher...
Ó que inveja, que intenso ruído miolar,
Contemplar um enlace sem sentido
Prá minha inteligência sem alter...

Um velho experiente em seu mister
Era meu pai, caramba, o meu herói,
Senhor de um marsapo além da mão...
Partia a cama gemendo de prazer,
Noites a fio e meu exemplo foi
De quanto vale o peso do tesão...

Hoje sei qual é deveras a questão
Daqueles que propalam a impotência
Dos velhos em favor de seus botões...
Em face da mulher os parvos são
Machos falhados cuja eficiência
Sequer aguenta a falta de colhões...

António Torre da Guia

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