Apreciem-se duas concepções de Picasso, cujo valor em moeda corrente me permitiria passar o resto da minha vidinha tranquilamente no Brasil, em permanência assistido por sete virgens, com guarda-costas e tudo, além de acesso livre, sempre que quisesse, ao harém real do Carlos Cunha.
Se não fosse muito esbanjador, logo que docemente batesse a bota, ainda deixaria à Usina pecúlio suficiente para se tornar no sítio literário mais concorrido de toda a lusofonia. Só não garanto se as sete virgens, que naturalmente iriam ao meu funeral, já estariam ou não violadas...
Curiosamente, pergunto: só por graça, para ter ensejo de brincar agradavelmente com as suas visitas, Você seria capaz de colocar o "rato a virar a esquina" na sua sala, mas a outra celebrada obra prima, a do "coiso" a fingir de braço, decerto não. Ou sim?!...
Ora, numa só frase, o que sei eu de e sobre pintura, defronte às obras de reconhecidos geniais pintores que considero não terem génio algum? Nada, mesmo nada, sufocado aparvalhadamente entre a tácita avaliação que os entendidos classificam de zénite artístico fora do comum.
Todavia, as pessoas que de perto me conhecem são unânimes em afirmar que desenho e pinto muito bem, acrescentando que é uma pena eu não dedicar-me decisiva e empenhadamente à arte. Às vezes, à guisa de teste de café, divirto imenso os meus amigos a rabiscar formas eróticas e outras interessantes habilidades que surpreendem qualquer comum apreciador.
Em exame oficial, que então avaliava o saber dos alunos que deviam ou não seguir em frente, tirei um espectacular "20" a desenho. Ainda hoje não sei como alcancei tal êxito, já que, quanto a mim, eu tinha consciência de ter errado em diversos efeitos que disfarcei da melhor maneira que pude. Em suma, atribuíram-me 20 valores sobre um trabalho que eu próprio achava muito perto da grandessíssima borrada.
Hoje sei, com certeza absoluta - embora não o possa provar - que a nota máxima foi para convencer meus pais a manterem-me interno no colégio que me habilitou a exame. A mensalidade a dispender era de se lhe tirar o chapéu, obrigando meu pai a andar muito depressinha e bem no seu trabalhinho. Dizia ele então com voz grossa: "O rapaz, embora rebelde, é um diacho muito inteligente".
E sou... Pelo menos, reconheço-o!...
Daí e agora, após passar tantos anos a olhar para obras primas de que não gosto e de forma alguma espontaneamente aceito, em face das polémicas telas de Pablo Picasso, estou assim:
Para que bem me entenda
Com o génio de Picasso,
Ele monta e faz a tenda
E eu genialmente desfaço...
António Torre da Guia |