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cronicas-->Insónia -- 01/10/2007 - 17:49 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rolo na cama. Mil pequenas formigas se dirigem ao meu cérebro aturdido pela atroz noite, que teima em passar lentamente, desmesuradamente ruidosa. Gotículas se desprendem de mil torneiras, todas deságuam no quarto, as paredes me contemplam, irónicas; quase posso ver seu sarcástico sorriso, afinal, elas nunca dormem e guardam toda nossa história!

Olho novamente o teto: Se olhar fosse palpável, minhas intermináveis noites fariam um traçado no cimento pintado há dez anos-sinal de urgente necessidade de uma reforma, uma pintura. Lembro-me do mito da Caverna, de Platão, ao olhar as sombras compridas que os faróis imprimem no aposento. Este, deve ser um caminhão, um ronco surdo e lento, com paradas...Caminhão de lixo! Aquele deve ser um carro deixando a namorada ao pé do prédio...Bate a porta, ouço uma voz feminina, devo estar certo afinal, porque lixeiras, eu nunca ví, tudo bem que elas estão tomando os postos dos homens, mas isto...

Acontece que nestas horas costumo ser cruel comigo mesmo. Se trabalhamos de manhã, por qual razão de noite as pálpebras se recusam a fechar? Por quê não vem o repouso, o descanso das horas do dia, por quê esta estupidez de calor e fastio? Cumpro minha sina e levanto-me, num gesto que arranca um gemido da cama de pinus, tantas as vezes que eu faço o movimento, deve estar com a estrutura comprometida. Quando mesmo foi a útltima revoada de cupins?

Daí, O Caminho de São Tiago: Vou até a cozinha, a luz é a baça luminosidade da madrugada que devora lentamente o céu sem nuvens e abro a geladeira, para uma pequena refeição. Não que eu exagere, mas um sanduíche de presunto sempre cai bem nesta hora. Cai como uma bomba no estómago, isto sim! Vem o Caminho da Horas: Vou ao banheiro e abro o armariozinho, não sem antes fitar meus olhos que brilham no escuro ( será ilusão?) e pego o vidro de antiácido que é meu fiel escudeiro nestas madrugadas que são minhas inimigas. Um banho resolveria meu problema? Penso no barulho, o que podem pensar meus vizinhos se abrir o chuveiro às três da manhã? Das duas, uma: Ou chegou agora da festa, o vagabundo, ou então, tem Transtorno Obsessivo Compulsivo, sempre achei este moço estranho, tem de tomar banho , mas às três? Ora bolas!

Aí, o Caminho de Volta: Este é o pior, pois volta e meia vou topar com um sapato desavisado ou uma quina de cama que incha propositalmente para atingir meu tornozelo. Meu humor já beira o de um jacaré, mas outros répteis já envenenam meu destino nesta hora delicada, enquanto esfrego a canela azarada e maldigo a cama que ainda vai parar no lixo, a machadadas. Mas nada disto resolve meu problema: Mesmo de olhos fechados, continua o ruído, continua o movimento, não acredito na intensidade dos passos que ouço ao longe: Quem usaria botas nesta hora? Coturnos? Seria um golpe militar na escuridão da noite, teria havido uma rebelião de generais de pijama que com os ditos cujos passeariam nas ruas desertas mandando nos pesadelos de toda a gente que ousasse por a cabeça de fora? Um estado de sítio da madrugada? Ou uma troca de guarda ruidosa?

Este é o Caminho de São Vito, os delírios que costumam povoar minha raiva de estar acordado enquanto os outros dormem a sono solto...Imagino as nuvens carregadas de chumbo ameaçadoras e tristes, imagino a cidade a ressonar enquanto voláteis rodopios se enchem de fúria, trovões e relàmpagos que estremecem as lajes dos prédios...

Por fim, os lúgubres piados de pássaros madrugadores. Sabiás? Corvos? Seus estalidos ressoam no vazio da noite, no vácuo das horas que se preenchem de meu medo, de minha angústia, de meu torpor.

Novamente, o teto cheio de sombras. Mas uma certeza me preenche agora, irrevogável, inadiável, fatal: Uma luz violeta já tinge o horizonte, um ruflar de asas denuncia o arrulho dos pombos à janela do vizinho. A manhã se avizinha e arde no ouro das janelas que se abrem aos poucos, de minha sacada posso ver as mães prestimosas preparando as lancheiras, os pais aplicados a tomarem banho à meia-luz nos banheiros, o casal que se acerta no quarto do prédio em frente e sempre de pé ( que resistência!) e as luzes dos quartos das crianças que reclamam de tão cedo serem acordadas.

Finalmente a manhã surge e prepara meu alívio afinal.

Espera-me um chuveiro fumegante.
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