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Contos-->Turbulência no voo ABS 815 -- 16/02/2017 - 23:05 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
 
 
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Flash, flash...
 Esperava ouvir o  trovão tardio que não veio... O único som  eram as pancadas de objetos caindo sobre as poltronas, e  no corredor da aeronave. Seu estômago se contraiu. Ficou em pé na frente da saída de emergência. Uma descarga elétrica atingiu a asa esquerda do avião. Ele olhou através da janela, captou a imagens externas e reconstruiu a frase da aeromoça: ‘O céu é lindo porque é azul da cor do mar.’ Refez a frase várias vezes... ‘É isso! Vejo o mar debaixo de meus pés.’

Acenderam-se a luzes de alerta e uma voz feminina anunciou: ‘Senhoras e senhores! Este é o voo ABS 815, com destino a Paris. Nimbos se aproximam. Por favor,  mantenham a poltrona na vertical e apertem os cintos. Obrigada!’ A visão de um rosto feminino entre as prateleiras da aeronave, confirmava a presença de  Vanini naquele voo! Fernão conhecia muito bem quando sua mulher estava nervosa. Fitou-a minuciosamente e percebeu nela um rosto mais cheio, e um corpo mais encarnado, mais gordinho. Sentiu a voz de  Cezar Ubaldo sussurrar em seus ouvidos: Carregamos no ventre a hóstia consagrada em partos menores...’ Fernão sequer conhecia, Ubaldo, senão, em textos lidos em site de literatura: ‘No ventre carregamos vida, então!...Carregamos no ventre o sol da manhã, a manhã irmã, o contraste do ser!...’ Nunca desejara tanto  ver o sol da manhã, da tarde... pisar terra firme ele queira. Queria contemplar o semblante de rostos amenos, diferentes daqueles rostos espavoridos de seus companheiros de voo.

Vanini tinha semblante triste. Embora tentasse  acalmar os passageiros, voltava a afundar-se nos próprios pensamentos, logo que o sorriso fabricado se desfazia. E pensava: ‘O filho que Fernão lhe negara; Hemor pôde dar a ela.’ Afastou qualquer pensamento de ira e esvaziouressentimentos que ainda que ainda habitavam  sua alma. Sentiu tontura...Segurou firme no espaldar da poltrona em que dormia uma velha ( alheia a tudo que se passava) e impostou a voz, dando  outro aviso: ‘Senhoras e senhores, estamos sob forte turbulência, por favor, mantenham a calma. Preparem-se para um possível pouso de emergência. Utilizem os assentos flutuantes. Obrigada!’

Fernão aquietou-se.
Ouviu  Camões bramindo como se desse em vão nalgum rochedo. E se lembrou do sonho da mãe e da profecia de um  vidente sobre acidente aéreo. Abriu o terno, conferiu o colete, retirou o paletó e afrouxou os sapatos. Os passageiros estavam com a cabeça sobre os joelhos e os tripulantes, mostravam-se compenetrados, vasculhando na mente procedimentos de segurança para uma situação de emergência. Ele sabia como abrir a porta de emergência situada nas proximidades da asa. Levantou-se. Suas pernas tremiam e o coração queria saltar do peito. Assentou. Deixou que se passassem alguns segundos, minutos talvez... Queria ter penas de gaivota na cabeça, nas asas...Em todo o corpo. Queria ser uma gaivota voando a 1200 quilômetros por hora.

Gaivotas não voam a essa velocidade, Fernão! A tensão do vento lá fora é que era de 1200 quilômetros. A essa velocidade, seu corpo será arrastado como uma folha seca tocada  pelo vento. Se tivesse a sorte de não tocar a água — dura como pedra — Poderia salvar sua vida. Mas como fazer aterrisagem? Não possuía freios, nem trem-de-pouso. O vento rasgaria  seus olhos e arrancaria sua pele. Talvez pudesse laçar-se de paraquedas, mas  as cordas não  suportariam a tensão. Poderia abrir o paraquedas só com ventos laterais. Precisava voar.  Ele era uma gaivota, como diziam os colegas de escola. Sim! Era um náufrago em potencial esborrachando-se contra o paredão. Não havia jeito! Titanic se partiria no choque contra um Iceberg.
Sentia-se como que acorrentado no porão de um navio negreiro. Superaria seus limites como uma gaivota, voando a uma velocidade nunca atingida por  sua espécie e se chocaria no paredão de água dura como concreto.  
***
Adalberto Lima, trecho de Estada sem fim..
Imagem: Internet
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