QUINTAL, UM RETRATO DA INFÂNCIA

Renato Ferraz

Foi com saudade da minha infância que lembrei do quintal da minha casa

Fiz um passeio pelo passado, onde as casas eram pequeninas,

Mas tinham esse espaço aconchegante.

O quintal era um pedacinho da casa

Onde dali eu recebia um abraço do sol

E à noite enviava beijos para a lua.

Minha noção de espaço era ingênua

e isso aumentava o tamanho do quintal,

conforme meu carinho e apego.

Nas cidades do interior como a minha,

A maioria das casas tinha quintais.

Ali havia um cantinho para cada coisa,

um coradouro, um garajau, uma pequena horta...

Lembro muito bem das fruteiras maiores,

como mangueira, goiabeira, tamarineiro, limoeiro etc.

Elas eram parte da família, pois nos davam a fruta do pé,

faziam sombra e eram usadas para brincar de se esconder.

Ainda recebiam os pássaros, que também passavam o dia brincando conosco, pulando de galho em galho, cantando e animando o ambiente.

Alguns já eram velhos conhecidos, saiam e voltavam logo, animavam a festa com suas cores e alegria contagiante.

Logo cedo o azulão começava a cantar. Em seguida apareciam vim-vim, bem-te-vi, beija-flor, canário, pintassilgo, caboclinho, papa-capim, curió e muitos outros.

Outra coisa interessante era que ali a gente se divertia,

à luz dos olhos dos nossos pais e as brincadeiras nos faziam gastar bastante energia.

Como era bom aquele cheiro de fruta madura, ouvindo os pássaros cantarem!

Ainda havia o quintal dos vizinhos, uns maiores e outros melhores.

Hoje quase não há mais espaço para quintal,

 o que diminuiu o contato direto da criança com a natureza.

A cidade cresceu para cima, os prédios substituíram os quintais por outros espaços como área de lazer, salão de jogos, piscina etc.

O espaço físico da área urbana ficou mais restrito e cada vez mais caro, o asfalto encobriu a maior parte do solo e enterrou quase todas as nossas brincadeiras.