Nunca concordei com a tese de que os pobres são bonzinhos e os ricos malvados. Não tenho nada contra os pobres, tampouco sou entusiasta daqueles que só pensam em enriquecer e passam por cima dos outros feito trator. Há gente boa em todas as classes. Assim como "espertinhos", "enganadores", "folgados", "aproveitadores" e "sem-vergonha" tanto no meio dos ricos como dos pobres.
Conheço muita gente "rica" (da classe média, ricos ou milionários) que se preocupa com os menos afortunados. Não fazem discursos, têm o hábito de praticar certas "coisinhas" no dia-a-dia. Respeitam as relações profissionais com seus empregados. Cumprimentam e tratam com gentileza o porteiro do prédio, o pessoal da limpeza, o garagista, a faxineira de sua casa. Os "pobres" (humildes funcionários), quando de boa índole, comportam-se do mesmo modo.
Mas há pobres aproveitadores, aqueles que sempre procuram tirar uma casquinha do patrão "rico". Fazem corpo mole no trabalho, chegam atrasados ao serviço. Pedem dinheiro emprestado a três por quatro, assim de repente, como se o patrão tivesse obrigação de adiantar-lhes o pagamento ou tivessem uma mina de ouro escondida. Pensam que o dinheiro deles cai do céu.
E aqueles que reclamam pelo desconto no salário dos dias em que faltaram. Empregadas domésticas (ou funcionários de escritórios e de lojas) que usam o telefone da patroa/patrão a seu bel prazer. Fazem ligações interurbanas, recebem do namorado/a chamadas a cobrar, sem pedir licença ou avisar que no fim do mês pagarão a conta
Também não se encaixam na teoria dos malvados e bonzinhos os "pobres" que recebem tratamento especial por parte dos "ricos" e não reconhecem, voltam-se contra eles na primeira oportunidade. Quem foi acolhida com bebê ao colo porque não tinha onde deixar; quem teve orientação nas horas difíceis; quem teve curso pago (pelo patrão) para melhorar de vida; quem ganhou telhas para cobrir o teto; quem recebeu óculos para enxergar melhor e até quem recebeu aulas (da patroa) para deixar de ser analfabeta.
É interessante notar que essas atitudes, tanto dos ricos como dos pobres, nunca são mencionadas pelos alardeadores daquela tese.
Já presenciei inúmeras cenas em que estes - pessoas esclarecidas que se dizem "de esquerda", de nível universitário, donos da verdade ou professores que estufam o peito ao se proclamar "defensores dos fracos e oprimidos" - trataram muito mal a empregada, o garagista, a manicure ou um garçom. Sem dó nem piedade, humilhando-os na frente de todo mundo. Por motivos banais: porque cometeram um pequeno erro, porque não se comportaram da maneira como julgavam ser a mais apropriada (servil) ou porque não foram capazes de atender (imediatamente) suas ordens.
Certa vez, depois de ter sido repreendido injustamente, e aos berros, por um professor universitário (em aulas, propagandista da luta de classes), ouvi do garagista ofendido o seguinte comentário: "O que estraga este senhor é a soberba".