O REI E O POETA
Por J.B.Xavier
- Vede! Disse o rei -
Estes são os meus domínios,
Prados verdes,
Sombras amplas,
Regatos e cachoeiras...
Lá distante a bela fonte
A correr o dia inteiro
Para mitigar a sede
Do cansado caminheiro...
Deste lado, veja bem,
Essas fortificações,
Cuidam de nosso sossego,
Nos protegem, nos abrigam
Das investidas guerreiras
Dos ferozes inimigos.
No alto estão as seteiras,
No chão os muitos abrigos...
Vede agora deste lado:
Campos sendo arados,
Camponeses trabalhando,
E guardas também, a postos.
Isso garante os impostos
Que mantém a roda girando...
E tu, que também se diz rei
De um reino que não entendo,
Sobre o que reinas amigo,
Se sequer tens um exército,
Se sequer tens inimigos?
Disse o poeta: - Meu rei,
Tenho cá os meus domínios:
Verdes prados da esperança,
E amplas sombras de alegria
Permeiam as alamedas,
E no lugar das intrigas
Tenho meus versos de seda...
Tenho rios e cachoeiras
Vertendo do coração,
Rios de amor que se transformam
Em cascatas de afeição.
Minha ermida é minha alma
Aberta a todo passante,
Pois em cada ser eu vejo
Um pouco além do horizonte.
Entretanto meu sossego,
Vem de outras direções,
Vem do espírito em paz!
Também tenho algumas setas,
Guardadas em minha aljava,
Mas, claro, sei que o senhor
Não as manipularia,
Pois são setas de alegria
E também setas de amor...
Quanto ao labor, majestade,
Derramo, sim, meu suor,
Para conseguir que o mundo
Fique um pouquinho melhor...
Quanto a inimigos, estais certo,
Declarados, não os tenho,
Mas, sendo o amor minha lança,
Todos os dias me empenho
- é minha religião -
Em atingi-los no peito,
No centro do coração...
Assim, não tenho muralhas!
Que venham os meus inimigos!
E com todo o seu ardor,
Que eu certeiro disparo
As minhas lanças de amor!
O rei olhou o poeta
E sorrindo lhe falou:
Se estas são as tuas armas,
Eu gostaria de ver
Este coração de pedra
Um pouco de sangue verter,
Vamos! Fere-me o peito!
Pois quero ser perdedor
Desta guerra onde as armas
São todas feitas de amor
* * * |