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Contos-->RESPOSTA BÁSICA -- 02/02/2017 - 05:53 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


  José Carlos, 50 anos, trabalhava como Contador de uma empresa sueca de médio porte, mas um dia foi demitido e, ao retornar para casa, sentiu o quanto seria constrangedor informar à esposa sobre a dispensa. Decidiu antes, passar na casa da mãe para elaborar a defesa (a relação com a esposa era uma luta diária). Entrou na casa da mãe, que não estava presente, sentou-se no sofá da sala, respirou fundo e lamentou tudo. Tantos anos de empresa. Os anos venceram e ele bem sabia estar chorando por leite derramado, embora soubesse qual era o leite derramado. Falaram da dispensa necessária; da implantação de uma nova política de contenção de despesas, a contratação de um profissional recém-formado, com um salário que não chegaria à metade do seu... mas José Carlos sabia, os planos da chefia dos suecos cinquentões eram outros: queriam contratar duas ou três mulheres para higienizar o ambiente. Secretarias jovens poderiam trazer alegria e talvez despertar uma antiga adolescência, revivida na forma de um romance proibido, como o Doutor Erik, um homem casado, experimentou com sua secretaria, que já era noiva, mas não se recusou a ajuda-lo naquele prazer. 


Os suecos precisavam de ajuda.


José Carlos olhou em volta e, ainda dentro da ideia de higienização dos ambientes, viu sobre uma mesa da sala de estar, entre muitos objetos, uma pequena escultura de um cavalo esculpida em quartzo incolor. Aquilo era bem antigo, talvez tivesse mais de setenta anos. Permaneceu ali invicto sobre a mesa.


José Carlos não era tão invicto, apesar de ser mais novo. Olhou melhor a escultura e notou que o cavalo perdera uma parte da cabeça e isto já fazia muitos anos. Na mesma hora, de forma cristalina como a pedra, José  encaixou uma resposta básica para todas as questões. Quando a esposa perguntasse:


- Como você deixou isto acontecer?


José  poderia dizer:


- Ora querida, você não percebe que estou sem cabeça?


- Você não poderia ter evitado esta humilhação?


- Ora querida, sem cabeça tudo é inevitável.


- De onde vamos tirar dinheiro com tantas dívidas vencidas?


- Ora querida, não posso usar a cabeça agora.


- E qual o tamanho da tua indenização, se já usamos teu Fundo de garantia para abater parte do custo do apartamento?


- Ora querida, não consigo pensar...


E  se a esposa fosse carinhosa?


-  Querido, esta demissão não importa? Você é o amor da minha vida.


Diante da provável entrada amorosa da sua mulher, José desistiu de uma resposta básica e listou as velhas desculpas. 


- O problema é esta crise de desemprego no país... O último gerente não gostava de mim... Todo mundo passa por estas vivências... O azar foi deles, pois eu sou um profissional competente...


De súbito, no meio das desculpas, José não retornou bem ao cavalo, mas ele terminou por fornecer a resposta mais abrangente possível a todas as questões, até as conjugais. Não eram bem as cabeças que  emplacariam no indefinido.


- Como você vai se resolver agora? – questionaria a mulher.


- Querida, velhos cavalos não perdem a crina.


 


DO LIVRO:"TOUROS EM COPACABANA"


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