ANJOS SEM ASA
Da varanda do apartamento, do quinto andar,
à noite, todos os dias;
quando eu ouço um burburinho atípico, vindo da rua,
olho e deparo-me com a desconfortável cena
de algumas pessoas com sacos nas costas, gritando,
disputando o espaço, em troca do aproveitamento do lixo.
Não há dignidade nas cenas que se passam.
É um ato humilhante e desumano.
Idosos, menores, mulheres com crianças
e ás vezes até grávidas, mas todas desamparadas.
Elas recolhem parte dos nossos resíduos,
colocados á frente dos prédios.
Eles são operários sem patrão,
que sobrevivem de viração.
Fazem parte de uma legião de miseráveis,
que apela para a sorte, onde sobrevive o mais forte.
Na maior pressa, realizam uma pré-seleção do lixo.
Tudo se passa clandestinamente.
O mal cheiro impregnado ao corpo, sem proteção;
deve atravessá-los até à alma.
Todo dia é assim, correndo e gritando, e até sorrindo;
é sempre igual, não se sabe até quando.
À frente, os que realizam a pré-seleção.
Atrás do caminhão da empresa de coleta de lixo urbano,
vem o segundo grupo garimpando a sobra.
Isso se dá numa ação relâmpago;
Completamente desprotegidos, e na maioria das vezes até sorriem...
Todo dia é sempre assim, a menos que chova forte,
Ou uma doença lhes faça mal e
lhes antecipe até a morte.
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