O POETA E O SEU CÃO
Renato Ferraz
O Poeta escrevia seus poemas
lendo em voz alta
e ouvindo música.
Seu cãozinho o ouvia
com atenção, balançando o rabo.
Às vezes se empolgava,
olhava para o companheiro
e o via como uma pessoa.
Recitava, gesticulava e lhe fazia perguntas...
Com o passar do tempo começou a perceber
que o cão, além de prestar a atenção,
lhe respondia.
Ele balançava a cabeça e balbuciava.
Certa vez, ao provocar-lhe, confirmou,
o cão dialogava realmente com ele.
Começou a ler um poema e observou a sua reação:
--Ó indecifrável coração, já não basta
ser como é, por que é tão difícil compreendê-lo?
Olhando para o cão, continuou a fala:
--Qual a razão para esse descompasso, ó coração,
se é o mesmo sangue que nos faz estar vivos?
O cachorrinho piscou, derramou uma lágrima,
fez um ar de riso e olhando-o nos olhos
resmungou algo que o poeta traduziu como:
--Pois é, não era para ser assim, coração,
obedeça ao seu dono. Seja-lhe fiel!
Ainda bem que existe a poesia...ela realmente
dá outro sentido à vida, inclusive à minha".
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