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cronicas-->TJN - 004 = A Grande Humilhação -- 11/09/2007 - 20:44 (TERTÚLIA JN) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Grande Humilhação


Facto curioso, a História parece repetir-se ciclicamente e a grande humilhação sofrida pelo Ocidente também se repetiu, mil anos passados. Há precisamente mil e dois anos, no ano 999 da era de Cristo (377 da Hégira), a Cristandade (assim se chamava naquele tempo o Ocidente então cristão) sofreu uma vergonhosa humilhação comparável hoje, em 2001, à que os americanos e o Ocidente em geral sofreram com o ataque perpetrado a Nova Iorque e Washington por fanáticos muçulmanos.
Almansor ou Almansur , o temível chefe sarraceno, hashib do califa Hisham II de Córdoba, tinha investido contra o noroeste peninsular, Portugale e Galaecia, saqueando, pilhando e incendiando Santiago de Compostela e a sua catedral, o lugar santo da Cristandade, símbolo da protecção divina à causa cristã, a Reconquista. Assim se chamava uma guerra sem tréguas que já há cerca de três séculos se travava entre cristãos e muçulmanos e que visava expulsar estes últimos da península onde haviam entrado traiçoeiramente pela força das armas, no fatídico ano de 711.
No dealbar do segundo milénio, tal acto altamente sacrílego foi uma afronta humilhante para a Cristandade e teve o mesmo impacto, naquela época longínqua, que teve hoje, no limiar do terceiro milénio, o ataque ao World Trade Center em Nova Iorque.
A História repetiu-se passados mil anos. A única diferença é contextual apenas. Os ataques dos fanáticos do Islão não visaram agora os símbolos da religião que dominava a Cristandade naqueles obscuros e conturbados tempos mas sim os símbolos do poder financeiro que sustenta o Capitalismo, a doutrina que domina agora o Ocidente e ameaça dominar o mundo em vias de globalização. O efeito foi o mesmo. Foi uma humilhante afronta tanto para a Cristandade medieval como para o Ocidente actual. Os procedimentos também mudaram. A Fé, o fervor religioso dos cristãos do ano mil, fazia deles homens destemidos que ripostavam de imediato às investidas dos infiéis, levando-os de vencida para o sul Andaluz. Agora, mil anos passados, já sem grandes convicções religiosas, pervertidos pelas delícias do materialismo hedónico a que se entregaram, tornaram-se tíbios, calculistas e medrosos. Pensam muito, discutem muito, fazem muitas contas e não agem.
Naquele ano de 999 as coisas não se passavam assim. Reinava na Espanha gótica e cristã o rei Bermudo II de Leão, o Gotoso, e era seu alferes-mor o Conde de Portugal, Mendo Gonçalves, neto de Mumadona Dias e filho do velho Gonçalo Mendes que havia falecido dois anos antes. O rei Gotoso morre pouco tempo depois da vexante afronta muçulmana. Mendo Gonçalves, chefe do condado Portugalense no virar do milénio primeiro para o segundo, morreu em 1008, em luta contra os Normandos (Vikings) que assolavam e pilhavam selvaticamente as costas portugalenses. Almansor, o terrível chefe mouro que cometeu tão grave e sacrílega afronta, faleceu inesperadamente, em 1002, com uma incurável doença de ossos. Sucedeu-lhe seu filho Abd-al-Malik Al Muzzafar não menos cruel e aguerrido que seu pai e que morreu ou foi morto misteriosamente em 1008. O califado de Córdoba extingue-se com a fuga do seu califa Hisham II, em 1031 e o mundo muçulmano da península, Al Andaluz, é dividido em múltiplos reinos denominados taifas ((muluk at-tawa if). Entretanto, a Bermudo II de Leão havia sucedido seu filho Afonso V que morre atravessado por uma flecha mourisca, no cerco a Viseu, no ano de 1028. Sucede-lhe Bermudo III que, por sua vez, morre alguns anos depois, em 1038, na batalha de Tamarón que travou com as hostes de Fernando I de Castela (da estirpe franca de Navarra). Com esta vitória, Fernando I ou Fernando Magno, conquistador de Coimbra e bisavó do nosso D. Afonso Henriques, toma o título de Leão e Castela ou Leon y Castilla, pondo fim à Dinastia Asturiana iniciada por Pelágio em Covadonga onde, em 718, sustem o avanço do exército sarraceno, após o desastre de 711 em Guadabeque.
Era este o panorama político das Hespanhas, no limiar do segundo milénio, quando a Cristandade sofreu tão humilhante afronta, semelhante àquela que o Ocidente acaba de sofrer no dealbar do terceiro milénio. Como se pode verificar, os nobres próceres daquele tempo, eram guerreiros destemidos, sempre em actividade bélica e raramente morriam pacificamente no leito. Passados mil anos, a luta entre o crescente e a cruz continua, só porque o Islão então tão avançado, parou no tempo, conservando-se ainda como naquela recuada época. Não evoluiu, não acompanhou a era tecnológica e talvez regredisse nos seus conceitos religiosos, vendo-se confrontado agora, não com a Cristandade, um rival do mesmo calibre, que entendia, mas com um mundo moderno que teima em não aceitar nem compreender. Na sua perspectiva, um mundo satànico, sem fé, materialista, de costumes dissolutos que ofende as virtudes do Corão e do Islamismo, obcecadamente, para eles, a única, a verdadeira religião.
Mas a verdade é que o fervor religioso que mantêm, dá-lhes a coragem para atacar a maior potência do planeta sem temerem a retaliação que não chega, o que de certo não aconteceria há mil anos atrás.

1 de Outubro de 2001

Reinaldo Beça
(reibessa@hotmail.com)



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