O CANTO DA CIGARRA
Ao Amigo Almir Alves da Silva Filho
Sou cigarra quando canto
No bar, no lar, no banheiro
Se meus males não espanto
Vou correndo pro terreiro
Cantei por todo o verão
Sem me importar com o inverno
Agora não tenho pão
E tudo virou um inferno
Quero do mundo sumir
Me mandar lá para o Sul
Pois um tal de Seu Almir
Quer me enviar pra Cabul
Só porque comprei um lote
De um coração de aluguel
Agora vem com o trote
Por causa do tal papel
Pois saibam que lote é meu
Tenho prova, tenho testado
Quem quiser que compre o seu,
Não me deixem arretado
Mas vou falar a verdade:
De pobre não tenho nada
Em nome da Liberdade
Fiquei de boca calada
Por isso peguei estrada
Pras terras do Tio Sam
Fiz uma grana danada
Que pesa mais que uma anã
Vou voltar um dia desses
Para o saudoso Brasil
Cheio e erres e esses
Brilhando mais que Bom-Bril
Com tamanha experiência
Não vou escutar um "não",
Vão me chamar de Excelência
E quero o meu coração
O coração que aluguei
E querem tomar de mim
Com tanto que já lidei
Levo a luta até o fim
Sou de briga e cara dura
Falo e juro, podem crer
Sou o tal do Tanajura
Sem medo de dedetê
Pois saiba Senhor Almir
Vou lhe falar sem deslise
Faça o favor de sumir
Do bom sítio da Lenise
Não divido meu espaço
No inverno nem no verão
Mas se chorar dou um pedaço
Do lote de um coração
© Fernando Tanajura
(n. 1943 - )
http://tanajura.cjb.net
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