A CABEÇA DO POETA
Renato Ferraz
Certa vez um poeta me confessou:
“Sinto a presença de anjos quando estou escrevendo.
Os anjos me dão a sensação de ser pássaro.
Chego perto de um galho, pairo cuidadosamente,
bem de mansinho, e vou colocando
penas, gravetos, folhas,
até que o ninho esteja concluído”.
Essa transfiguração me remeteu a um outro poeta,
que eu nunca consegui entender sobre como escreve.
Pois este me disse:
“Nem sempre reconheço o que escrevo.
Apenas me deixo levar como se não estivesse em mim”.
E entre um e outro, penso que,
se escrever poema dá o voo que tem pássaros e anjos.
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