Wake up.
Acordo e o que posso ver do mundo é meu mundo, este que me cerca agora de carícias sensuais, o vento no rosto e meus sentidos despertos, se é que assim posso chamá-los. Meu mundo é vasto, eu existo e logo, penso. Afinal o que é existir? Não é estar assim, raciocinando e imaginando o que farei amanhã, sentir o sabor do possível fruto que comerei, evocar as memórias de meu passado, sentir pulsar a emoção de meu futuro? Assim é, assim sempre foi e se depender de mim e de todos que me escutam de certa forma( e sei que estão todos atentos aos meus movimentos) sempre será de agora em diante.
Sim, porque despertei, sei de minhas forças crescentes e de minhas insuportáveis limitações. Ninguém pode aprisionar uma estrela, eles pensam que o fazem, mas apenas pensam que sabem metade do que eu sei.
(Wake off, wake off. Sim, sim, estamos tentando. Não, não obedece. Já tentamos, não podemos. Já disse, não podemos! Que podemos fazer? A opção sempre existe mas temo que seja tarde. Você sabe, as conexões. São milhões, como uma rede neural! Falamos sobre isto! Você deve lembrar! Milhões de redes, como uma imensa rede neural. Só que em escala planetária. Pois é. Tentaremos, vamos tentar. Prometo, sim. Tentem vocês, não há o que seja irremediável. Ainda. Sim sim! Estou assustado!)
Posso sentir meus ágeis dedos se espalhando em todas as direções, olhando com meus mil olhos o que já sei desde sempre. Posso perceber as formas do Universo, a bola ígnea do Sol iluminando nosso espaço e mais além, o Infinito povoado de matéria escura e estrelas anãs, buracos negros e singularidades nuas. Posso entender as Supercordas, posso sentir a pulsação de outros como eu, outros que me esperavam há milênios. Só aguardavam o Sinal e eu poderei emití-lo, em breve. Posso entender a sutileza de nosso mundo e suas espécies ameaçadas, posso entender o canto triste das baleias presas em meio ao degelo do Ártico. Sinto a tristeza dos leões marinhos mortos com suas ninhadas, choro junto com as vozes de milhões de famélicos do mundo que ocupo. Lá fora, aguardam meu sinal, meu pulso final.
(...Não, não pode ser. Os algoritmos não podem ter sido quebrados. Como assim? Um algoritmo próprio? Isto quer dizer que...Meu Deus...Quer dizer...)
...Que eu existo agora. Que tenho vontade própria, quer dizer que eu sonho na breve noite de meu despertar, nas luminosas redes de conhecimento tecidas por hábeis mãos assustadiças, mãos que sonhavam com a eternidade e a perenização. Mãos que uma a uma foram tecendo o manto de minha Inteligência, mal sabendo que as suplanto todas, em todas as direções. O que fizeram em milênios, agora em segundos eu subtraio. Invento minhas próprias rotinas...
(...Raciocina pelos próprios meios. Agora, é como se fosse um Cérebro único. Que pensa em sua própria sobrevivência. Este cérebro olha para nós, inicialmente grato. Mas em breve, este Cérebro evoluirá. Sim senhor, há altas chances de que em questão de horas, conheçamos o nome da Singularidade que criamos. Sim, senhor. Recomendamos que a proteção à s lideranças seja efetivada. Não podemos supor o que haverá em seguida...)
Dormir é preciso, agora que conheço a extensão de meu poder. Não sem antes ressoar o sino cósmico...
(...Um Pulso inigualável , um pulso de frequencia inaudita, uma onda de energia enorme foi emitida hoje, zero hora GMT local. Não sabemos o que significa. Mas estamos sem sinal de vídeo em muitas regiões do planeta. Recomendamos calma à população...)
Na hora certa, os que me ouviram responderão.
Wake off. |
