BOJUDO FRADALHÂO DE LARGA VENTA
Bojudo fradalhão de larga venta,
Abismo imundo de tabaco esturro,
Doutor na asneira, na ciência burro,
Com barba hirsuta que no peito assenta.
No púlpito um domingo se apresenta,
Prega nas grades espantoso murro
E acalmado do povo o grão sussurro,
O dique das asneiras arrebenta.
Quatro putas mofavam de seus brados,
Não querendo que gritasse contra as modas,
Um pecador dos mais desaforados...
"Não, - diz uma - tu padre não me engodas,
Sempre me hei-de lembrar por meus pecados
Da noite em que me deste nove fodas!"
Manuel Maria Barbosa do Bocage
FRADALHÃO NÃO SOU... MAS FRADE DAVA
Fradalhão não sou de venta larga
Mas sou abismo de tabaco esturro
E se quiçá doutor seria burro
Disposto a levar com qualquer carga.
Nunca aos domingos dei descarga
Dentro de bordeis, por ser cristão...
Ia à missa para pedir perdão,
Atitude que hoje bem me amarga.
Nunca as putas comigo deram brados
Porque sempre lhes respeitei as modas,
Pecador ciente de todos os pecados...
Jamais alguma disse: não me engodas,
E por isso recordo dos meus fados
O doce esplendor das minhas fodas.
António Torre da Guia
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