CEGO
Pede o desejo, ansia, mas dá-te medo,
quisera tê-lo a te galgar alado,
com suas penas suaves de arcanjo...
Como um véu que te recobrisse mal,
talvez o sangue entrasse em ebulição,
nesse corpo enroscado em languidez,
que nem tu sabes bem porque o tens...
A esses peitos em turbilhão de cheiros
é preciso apalpá-los e lambê-los?
Sim, diz o meu indisfarçável estado...
Que rijo o grito te arrebata e enerva,
mas faz soar o sino das tuas glórias,
que as avalanchas da ilusão badalam,
quando princesa das flexíveis formas,
ao estertor das piruetas abrir-te,
transformando-se em saraivada atroz,
na tua entranha este singelo algoz
Miguel Eduardo Gonçalves
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