Usina de Letras
Usina de Letras
259 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140788)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Estratagema de cigano -- 04/01/2017 - 01:08 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A cigana era bonita, mais da conta. Morena-indiana, olhos negros amendoados e longos cabelos escuros... mostrou-se com  vestes talares, que delineavam o corpo estrutural de uma deusa. Na cabeça, um lenço fino. E pulseiras coloridas nos braços. Insinuantes, as bolinhas do seio davam nas vestes, como se quisessem furar o azul-acetinado da seda. O cliente não se conteve. Elogiou. Fez galanteio. Roçou a mão na cigana. Atrás da cortina, o marido dela espiava pela greta do acortinado. Viu e ouviu tudo. Viu José Lino palpitante. Assanhado. Com um salto felino, o gajo apresentou-se, pronto pra fazer uma arte. Fez ver o punhal na cintura, sem tirar da bainha. Só abanou a camisa, para a arma aparecer. José Lino sacou sua arma. Falou alto. Alterado. Desafiou. João Velho pôs em punho seu  trinta e oito, cheio de balas. Meteu o pé. Derrubou a  tenda.

— Calma João Velho! Ainda nem dei meu recado! 
Onofre apontou arma para um velho sisudo que tinha cara de  chefe.
— Dou meia-hora e não quero ver  nem cisco de cigano aqui! A ‘orde’ era do patrão. Agora é minha. E dele. Mais dele que minha, e desses que estão comigo. Meia hora. Dou meia hora! Se passar disso, num sobra nem menino...
Pururuca quase ensaiou uma desgraça. Puxou o revólver e atirou pra cima. Tremia que nem vara verde. O perigo está é no medo. O medroso é quem mata. O valentão confia nos arreios, e morre.
— Dê cá sua arma, Pururuca! Ainda não tá na hora de fazer fogo. Disse Onofre, peitando um cigano de uns vintes anos. Forte que nem Sansão.
— Dou não!
— Pois dê pra João Velho!
— Pra João Velho eu dou.
— Agora, monte e avise ao patrão que vai ter fogo. Precisa mandar mais ninguém não. Eu sozinho dou conta. Vamos precisar só de pá e enxada.
Os ciganos entenderam que se tratava de um pedido de reforço. 
— Sangue pra mim não é novidade — disse o  vaqueiro que atendia pelo apelido de Soberbo. 
— Você não está sozinho, Onofre!
João Velho não se sentiu ofendido. Quis dizer que também garantia sua parte.
— E eu vim sozinho? Só quero que esperem o sinal. O primeiro eu derrubo. Depois, todo mundo solta os marimbondos.
Não era de duvidar que os vaqueiros estivessem preparados para o confronto. E, ao sinal do velho sisudo, sai a primeira leva de ciganos, conduzindo as mulheres e crianças. Outra caravana também pôs os pés na estrada. Só homem novo e robusto. Mais de vinte.
Ficou um gordo de meia-idade, pastoreando dois grisalhos. Dentre eles, um velho manco. O manco a sair por último, olhou com desdém para  Onofre. Retirou o lenço do pescoço deu três nós e cuspiu para trás. Nem viu o punhal, penetrar-lhe o peito. Ficou teso. Ensanguentado. Esticado no chão.
— Pra quê fez isso, homem? Não precisava!
— Esse miserável tava com as horas contadas pra morrer. Não aguentava mais um chouto. Só aliviei o sofrimento dele.
— Eles vão voltar.
— Nem não. Voltavam se não tivesse acontecido nada. O véi doente era só armação.
— Estratagema de cigano para medir nossa paciência — Disse, sabiamente,  João Velho.
— Era essa gema mesmo! Voltavam  depois com  a desculpa de vir buscar o velho. E aí, arranchavam de novo, adiando a peleja, para cansar o patrão — Conclui Onofre.
***
Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...
Imagem: Internet

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui