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Contos-->Cortejo de Zé Pilão -- 28/12/2016 - 23:30 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Campo Grande conhecia a história de Pururuca, contada por ele mesmo, logo que chegara  esfolado de uma surra que levou em Tremedal. Ele tinha marcas de vergôntea nas costas que não cabia um dedo entre uma e outra. Algumas desceram cruzadas. Dava pra saber que braço tinha batido. Cipoada fina era de menino! Meia tira de couro arrancada, tirada por velho. Risco raso, de mulher...E muitas delas quase dando no osso;  era de caboclo forte, tomado de aguardente. Não tinha como esconder a verdade. Estava marcado para sempre com o sinal do castigo baiano. Lá o mineiro conheceu o carrasco em seu duplo sentido: o tipo de solo predominante na região e o algoz. Nascido  em Montes Claros,  a pouco mais de trezentos quilômetros do vizinho estado da Bahia, ele não conhecia as tradições baianas e viu-se encurralado no Curral de Dentro. Sofreu no Paraíso, feito Cordeiro puxando lenha para o próprio holocausto. Estava em  seu dia de folga, e deu de acompanhar enterro de um baiano em Tremedal,  perto  dos fornos de carvão.  Naquele dia, mineirinho tremeu    de fraqueza. Nunca tinha apanhado tanto de chibata.  O cortejo seguia a pé e depois de andar bom pedaço de légua, alguém gritou: ‘Pesou!’ Sem saber de que se tratava, mineirinho respondeu lá do fundo: ‘Pesou...’ O cortejo parou. Os carregadores de caixão, largaram o esquife na beira da estrada. As pessoas mais próximas passaram rabo de olho em mineirinho. Aquele olhar de repreensão foi um aviso: ‘Você disse besteira!’ Curioso, Pururuca adiantou-se, esgueirando-se entre a multidão, para ver o que estava acontecendo. Viu gente de todas as idades, chicoteando o caixão. Não se controlou e riu... Sem demora, desceram-lhe o relho por todos os lados: nas costas, nas pernas, no traseiro... só se via braço subir e chicote descer. Não teve outro jeito senão, embrenhar-se no carrasco. E só mais tarde percebeu que lhe haviam arrancado algumas tiras de couro do lombo.

  Não olhou para trás! Correu, escondeu-se na mata. Escondida na mata também estava a onça. Pururuca ouviu a voz da selva que passava por garganta felina, suplicando seu sustento ao Criador. Lembrou-se da mãe. Ela sabia reza para afugentar animal selvagem, mas mineirinho tinha outro credo — não podia fazer oração decorada — Então lhe veio à mente o sacrifício de Isaac. ‘Meu Deus, serei a vítima. Se pelo menos houvesse por ali um veado...’ e pediu que Deus  poupasse a miserável vida de um humano, prestes a se tornar pasto para onça. Claro, que no escuro, ele passou a noite em claro. Quem é doido de dormir com onça por perto! O bicho é oportunista, aproveita a fraqueza, ou o descuido da presa... 

***

Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...

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