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Contos-->Carne seca e farinha -- 28/12/2016 - 22:35 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





A mando do fazendeiro,  Euzébia de João Velho preparou víveres suficientes para sete pessoas, em incursão na mata, durante três dias. Nhá Santa ajudou a socar carne seca no pilão e a encher quatro pares de alforjes com paçoca, rapadura, e água à vontade nas bilhas. À tardinha, a peonada se reuniu no alpendre. Onofre do Borá  manobrou a cravina: culatra... culatra...  A arma respondeu de prontidão. José Lino conferiu a mira da parabélum e uma pomba caiu no terreiro. João Velho afinou a ponta da zagaia com que abatera, quando ele era jovem, uma suçuarana na Furna da Onça. Calmamente, Japuaçu torcia as pontas do bigode, enquanto conferia se a malha de caroá era capaz de suster animal do porte de uma onça. Coube a Pururuca levar o mosquete e a respectiva forquilha de suporte. Ele levaria toda a tralha: água, mantimentos e a rede de caçador. Júnior de Dr. Adilson também foi, mas este não conta. Não era empregado da fazenda. Estava guardando férias em Campo Grande e quis entrar na infunca da onça, só por folia. O entusiasmo   era  dele, mas a carabina e a coragem eram do pai.





 Pai Luís fica para tomar conta da plantação. Capistrano também não vai. Corre notícias de cigano andando nas redondezas. É  preciso botar sentido na fazenda. Cigano rouba o sol antes de nascer.





— Antes de nascer o sol  ou o cigano?





— Não me interrompa, Robert. Deixe o leitor questionar. És apenas um lápis em minhas mãos — disse Ravenala— Gregos e romanos usavam  uma pedra para escrever noutra pedra.





— Não entendi.





— Quero dizer, tu és uma pedra, ou melhor um grafite. Grafite  é uma pedra. Então palavra é uma pedra que pode ser apagada.





— O que está escrito, pode ser apagado. Mas a palavra uma vez proferida, não há como apagar. Quer benfazeja, quer cause ferida, não apaga. Então porque me dizes:  ‘És apenas um lápis em minhas mãos’.





— Esqueça a pedra, esqueça o grafite. Não consigo arredondar o pensamento. Perdi o fio da meada. Onde estávamos?





— No alpendre do casario.





Os vaqueiros ainda estavam reunidos no alpendre da fazenda. Cada um conferia sua arma, sentindo o cheiro  de carne seca e torresmo socados no pilão.





O tempo formava para chover, e a sombra da noite caia como um toldo sobre as pálpebras dos vaqueiros, acostumados a se recolherem cedo para dormir.






— Tudo combinado para de manhã cedinho. Vamos descansar — disse Onofre.





Generoso ergueu a palma da mão direita:






— Esperem! A cozinha tem alguma coisa para oferecer.






 Nhá Santa  trouxe café, e uma grande cuia com carne socada no pilão. Cada vaqueiro recebeu uma caneca esmaltada e uma colher de latão, limpa e reluzente como ouro. Generoso recebeu sua porção numa tigela de louça branca, com ramalhetes nos tons azul, vermelho e amarelo. Teve dúvida se sua colher era de latão ou ouro fino. Pôs seu copo de alumino no peitoril da varanda, despejou o conteúdo da tigela na cuia e comeu com os vaqueiros







 — Nhá, disse ele — Devo tomar café quente em copo de alumínio?







Nhá Santa abanou a saia e saiu dando rabanada. E trouxe uma caneca de louça.







Chovia fino. 







***







Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...


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