LÁGRIMAS DO SERTÃO
Renato Ferraz
Deus, ó meu Deus
Avoco-lhe uma prece
Que mande-nos chuva logo
Porque seco do jeito que está
Tudo aqui, sem a sua bênção, irá se acabar...
Depositei minhas últimas esperanças
Plantando essas sementes que me restavam,
O que será de nós se a chuva não chegar
E se o inverno passar, com mais um ano de seca?...
Senhor, só o Senhor poderá nos ajudar daí do céu!
Aqui na terra nada somos, a não ser seus filhos.
Já imploramos a todos a quem temos direito...
Cada vez mais nos enganam com promessas,
Que se repetem, entra ano, sai ano.
Parece até, ò pai, que eles ao contrário da gente
Torcem pela nossa miséria, para que a chuva não venha.
Não queremos sair por aí perambulando,
Como fugitivos, pelas cidades grandes,
Não somos vagabundos.; vontade não nos falta para trabalhar.
Aqui nossos antepassados foram enterrados com tanta devoção!
Nossos pais também nos criaram
E assistimos nossos filhos nascerem e crescerem...
Sabemos de histórias de conterrâneos ...
Outro dia eram nossos vizinhos e até parentes, ò pai,
Que partiram em busca de dias melhores,
Para morarem em lugares com outros costumes
E, ou morreram pior ou foram mortos...
Pai, aqui a vida tem sido ingrata,
A natureza tem horas que parece até nos castigar...
E os homens do poder nos têm sido cruel
É como se já nascêssemos condenados
A viver e morrer nesse eterno sofrimento!
O sol amanhece cada dia mais forte,
A última cacimba que tinha, secou.
As poucas criações que restavam, morreram
E o chão, como se nos chamasse para seu interior, até rachou.
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