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Humor-->O Vendedor de Rede -- 15/03/2005 - 18:10 (J. Ruy) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Vendedor de Rede

Eu morei por alguns anos no litoral Cearense.De lá trouxe muito aprendizado para por em prática no meu dia a dia. Uma destas lições recebi de um vendedor de redes.Na entrada de um hotel, a beira mar, precensiei o dialogo entre o vendedor de redes e uma linda turista que parecia muito mal humorada.

- Olhe a rede madame- insistia o vendedor pela atenção da turista.

Sem tirar o olho do livro que lia, a bela mulher balançou a cabeça em sinal negativo.

- Posso saber o que está lendo?

Ela, num gesto de poucos amigos, mostrou a capa do livro que lia ao vendedor sem dizer uma unica palavra.

- Bonito livro, comentou o vendedor.

- É. Respondeu ela, numa única silaba.

- Um dia ainda aprendo a ler. Deve melhorar bem a vida da gente.

- Com certeza, disse ela.

E, olhando pela primeira vez no rosto do vendedor pode constatar que se tratava de um homem marcado pelas rugas, já bem acentuadas, de quem tinha vivido muitos anos exposto ao sol, tentando garantir o sustento da familia.
Com o livro abaixado sobre o colo perguntou:

- O senhor nunca aprendeu a ler?

- Livro não, moça.
- Eu perguntei se o senhor sabe ler ou não?

- Só pensamento.

- E o que eu estou pensando agora?

- Que eu vou desistir de vender esta maravilhosa rede para a senhorita.

- Acho melhor mesmo que desista logo. Já me arrependi de ter dado confiança ao senhor.

- Arrepende não, dona. Arrepender é sofrer duas vezes.

- Como assim?

- Quando fazemos alguma coisa errada, já estamos sofrendo. Quando arrependemos de ter feito a coisa errada, sofremos pela segunda vez.

- Pode ser que o senhor tenha razão, mas agora, por favor me deixe ler meu livro sossegada.

- E a rede madame?

- Por favor, não insista. Eu não quero comprar sua rede.

- E se eu oferece-la como um presente para a moça mais bonita que conheci?

- Não posso aceitar seu presente. Acabamos de nos conhecer. O senhor está vendendo redes e não oferecendo presentes.

- Mas, eu só estou sendo grato com o presente que a senhora me deu.

- Eu não lhe dei nenhum presente.

- Deu sim. Alguns preciosos minutos de sua atenção.

A turista olhou para os lados e percebeu que algumas pessoas acompanhavam com atenção o desfecho daquela história.

- Quanto o senhor quer pela rede?

- Eu já disse a senhorita que não estou mais vendendo a rede. Agora eu estou lhe fazendo um presente.

- Não posso aceitar seu presente, não insista. Diga o preço.E pegou a bolsa, tirando de dentro a carteira.

- Pague o preço que achar justo pela mercadoria.

- Eu não tenho noção de quanto vale esta rede.Só estou comprando para me livrar do senhor.

- Foi por isto que eu não aprendi a ler.

- Mais esta agora. O que tem a ver o que está acontecendo aqui, com o senhor não ter aprendido a ler?

- Quando eu era criança, meu pai foi embora para se livrar de ter que cuidar de mim. Depois minha mãe me abandonou na rua. Fui sendo jogado de canto em canto. Pedia esmola nas esquinas, mas sobrava muito pouco porque os grandões me tomavam quase tudo que eu ganhava.Um dia, um homem me ofereceu trabalho. Era um gringo alto e forte. Eu aceitei, ele me levou até sua bela casa de praia.Eu tinha uns 8 para 10 anos, mostrou o quarto onde eu ia morar. Nunca tinha visto nada igual, tinha até banheiro com banheira.Para quem sai da rua, apesar da pouca idade, acreditar em papai noel não fica muito facil.Foi ai que ele me prometeu que me levaria para uma escola.Ao invés disto, tentou abusar de mim. Quando viu que não seria facil, me deu uns trocados e disse:
- tome isto e suma daqui, só quero me livrar de voce.

- Agora, estou ouvindo a senhora me dizer que vai pagar uns trocados pela minha rede para se livrar de mim.Foi por isto que lembrei porque não aprendi a ler.

- Olhe senhor, eu também tenho problemas. Estou tentando descansar, sentei aqui para ler um livro e me distrair um pouco e daí me aparece um vendedor de redes e me tira do meu lazer.

- Mas, a senhorita não me parece muito feliz com o que esta lendo.É alguma história triste?

- Não meu senhor. É um romance.

- Romance eu gosto. Leia um trecho para mim.

- Deve estar brincando. Mas, tudo bem.Vou ler um trecho e o senhor me deixa em paz.Combinado?

Feita a leitura de um pequeno trecho, ela levantou seu olhar e percebeu que o velho vendedor de redes enchugava a lagrima que insistia em escorrer pelas rugas de seu rosto.

- Mas porque o senhor está chorando?

- É muito triste este livro senhorita.Se eu soubesse ler não ia ler um livro triste deste.Escolheria coisa alegre para me divertir. Agora entendo como uma mulher bonita, sentada em frente a este mar verde, no lugar de estar sorrindo e alegre esta mal humorada e triste.

- O senhor acha mesmo que é o livro que está me deixando triste?
- Tenho é certeza disso.Se vamos ao velório de um amigo ficamos triste, se for na festa de aniversário vamos ficar alegre.Olha moça, não sou letrado, mas da vida conheço um bocado.

A turista fechou o livro, e perguntou:
- E a rede?

- É da senhora, eu já disse.

- Combinado. Eu fico com a rede e voce leva meu livro.

- Eu aceito dona.

- Mas, para que vai te servir este livro?

- Sabe dona, tem um conhecido meu que é muito estudado.Vive caçoando de mim porque eu não sei ler.Vou dar o livro para ele ler.Assim deixo o desgraçado triste e livro a bela moça deste mal.

Ela imediatamente lhe entregou o livro e pegou a rede deixando escapar um belo sorriso.

- Queria ver a cara do seu amigo ao receber o presente.

- Pois olhe ali do lado. É aquele com cara de besta encostado ali, nos olhando. Eu disse a ele que faria a senhora trocar o livro na rede comigo.Ele riu de mim e apostou que me pagaria o valor de 10 redes pelo livro se eu conseguisse o negócio.Agora, a senhorita me de licença que vou buscar meu lucro porque já perdi muito tempo com um negócio só.

Em menos de uma hora o vendedor de redes fez a linda turista sair do mal humor, sentir-se feliz e logo depois - uma bela idota.


J. Ruy

http://www.tripdaareia.com.br/recomendados/travessia_listagem.php3


Obras Físicas Publicadas:

É Preciso Saber Viver

Superando Obstáculos. Há um novo caminho.

Estande na Bienal:Noite de Autógrafos 18/03/2006 as 19:00 hs
Editora Tecmedd - Selo Novo Conceito localizado na AV.04 - RUAS F/G
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