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Contos-->Tenho sede, Samaritana!... -- 17/12/2016 - 20:58 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
 
Ela percebeu as intenções de Daniel ao mencionar Vespasiano Ramos. Não seria profanação idealizar a mulher de seus desejos, tomando por imagem a conversa de Jesus no poço de Jacó com a Samaritana: ‘Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu.’  Havia, no entanto alguma semelhança entre ela e a samaritana, com divergência na quantidade de maridos: Robert, Fernão e Daniel, juntos somam-se três. Quanto a ‘o que tens agora não é teu.’ É seguro afirmar que Daniel fora esposo de Morgana, dividiram o mesmo teto por algum tempo, mas o ato nunca foi consumado. Pensou na Declaração de Nulidade que o casal conseguiu junto ao Tribunal Eclesiástico. ‘De que valeria aquela declaração numa ilha? Bem, diante do Tribunal Divino tem valia. Ela se casara com Daniel. Então, não era a Samaritana...’
__Sinto novas contrações.
Daniel precisar criar uma rota de fuga para que Ravenala não se concentrasse na dor. Pigarreou i impostou a voz, declamando Vespasiano: 
 ‘Piedosa gentil samaritana: Venho, de longe, trêmulo, bater à vossa humilde e plácida cabana. Pedindo alívio para o meu viver! Sou perseguido pela sede insana do amor que anima e que nos faz sofrer.’
— As contrações me afastam do caminho do amor para a dor. E por mais que te veja ‘trêmulo bater à minha porta’ sou obrigada a te deixar sofrer.
Por que foges, insistiu ele:‘Tenho sede demais, Samaritana. Tenho sede demais: quero beber!’ 
— E tu vens a mim, Vespasiano? Já estou no nono mês! Como poderei erguer o balde? Não tenho mais forças. O poço de Jacó é fundo! 
— Farei um leito acolchoado de Ramos. Sobre  ele Vespasiano se deitará com a Samaritana.
— Não, hoje não!
— ‘Fugis, então, ao mísero que implora. O saciar da sede que o consome. O saciar da sede que o devora? Pecais, assim, Samaritana! Vede: Filhos, dai de comer a quem tem fome. Filhos, dai de beber a quem tem sede.’
— Dá-me desta água que tu tens — disse ela.
A lua banhava de luz  a imensidão do mar. As ondas quebravam lentas e esbranquiçadas na praia.
— Quero comer uma cotia assada.
Final da gestação, ainda sentindo desejos. Não é desejo, é fome. Ravenala sentia fome.
Pegou o arco.
— Olha isto!
Bateu na corda e conseguiu extrair um som indefinido. Baixou as vistas, envergonhado de seu feito. Nenhuma escala musical seria capaz de definir aquela nota.
— Eu também tenho uma surpresa — disse ela — e puxou uma pequena esteira — que tal o berço de nosso filho?
— Ótimo! Obra de uma excelente artesã.
— Não exagere.
— Isto é o melhor que uma ilha pode oferecer.
Riram.
Ela sentiu contração.
— Vamos lá pra fora. Não quero que o primeiro contato de meu filho com  o mundo seja inalando cheiro do esterco de morcego.
— Sinto contrações de novo...
— Não tenha medo! Estou aqui.
A hora pinga lentamente no intervalo de quatro múltiplas contrações. E  logo, a  vida sorri nos olhos fechados de uma miniatura de gente.
— Nasceu!...Ele nasceu!...

***
Adalberto Lima - Estrada sem fim...(fragmentos de obra em construção)
Imagem: Internet

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