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Contos-->AMNÉSIA RARA -- 01/12/2016 - 03:37 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Lucas sofria de um tipo raro de amnésia anterógrada. De quinze em quinze minutos esquecia toda a sua vida recente e isto porque levara um tiro na cabeça durante um assalto ao banco em que trabalhava e perdera parte do cérebro. Com este tipo raro de amnésia, Lucas permanecia sempre dentro do mesmo momento, dentro da mesma divagação. Na clínica onde fora internado e para acalmá-lo, os médicos inicialmente o encaminharam para o preenchimento de jogos de palavras cruzadas. Lucas demorava um dia na resolução de uma linha. Depois os médicos perceberam que a atividade preferida de Lucas era interpretar frases de filósofos famosos. Parou em Jean Paul Sartre quando leu o conceito: 


“O inferno são os outros.” 


    Todos os dias Lucas escrevia em seu caderno uma interpretação sobre este juízo e, estranhamente, elas nunca se repetiram.


“Se o inferno são os outros como amar o próximo como a ti mesmo?”.


Às vezes, Lucas não escrevia nada e passava o dia examinando a frase. Outra interpretação registrada:


“Os lixeiros são homens felizes. Não se importam com a opinião alheia e jogam no caminhão, sacos de lixo e desprezo para a compactação.”


Lucas talvez se lembrasse do seu tempo de caixa do banco, quando convivia com demônios por todos os lados e na sua frente apenas o pequeno calendário com a foto da praia australiana. Na época, ele pensava em fugir para a Austrália. 


  Lucas recordava a época e certamente esquecia de tudo diante das divagações sobre o conceito à sua frente:


 “O inferno são os outros, são os olhos, são os trocos.”


Um dia Lucas decidiu que um ponto de exclamação seria melhor no final da frase.  Porque era preciso mostrar a intensidade dos “outros”. A partir dali a frase ganhou uma nova dimensão: o ponto de exclamação venceu a amnésia de Lucas, permanecendo no registro.


“O inferno são os outros!”.


Pensar no conceito acalmava Lucas. Um pensamento ainda melhor do que outro de Albert Einstein: 


“Existem duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana. Eu não estou muito seguro da primeira.”


  Um dia, Lucas chamou um dos atendentes  da clínica e comunicou antes de esquecer a razão da  análise que fizera:


- Quando eu entrar no Paraíso, entrarei sozinho. Os outros  como você seguirão um caminho diferente.


O atendente, que era evangélico, comunicou a declaração ao médico especialista, que decidiu substituir o conceito por outro de Henry David Thoreau também muito satisfatório no tratamento de Lucas:


“Jamais encontrei companheiro que fosse mais companheiro que a solidão.” 


Lucas começou rápido e diversificou:


“A solidão nunca terá um rosto.”


"Para as distensões do mundo moderno, use icebergs"


 


Do meu livro:"Touros em Copacabana"


 

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