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cronicas-->Os dois bichos do homem -- 13/08/2007 - 19:13 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os Dois Bichos do homem

Minha vida terá tantas mortes quantas eu as queira ter. Mas, somente uma outra vida, após essa, se acaso desaprender a morrer um dia. Um grande urso polar quando hiberna não perde sua força instintiva, nem amolece suas garras afiadas. Seu despertar pode nos fazer sua presa preferida ao alisar seus dentes que apenas dormitam escondidos na boca. Um homem pode guardar dentro de si dois bichos: Aquele urso, que apesar de tão belo pode nos ser mortal, ou um outro bichinho qualquer que não forceja de si nenhum veneno porque nem garras tem para segurar uma presa, como as pétalas jogadas na terra por algum vento providente que, olhando as mais desgarradas do botão, joga-as sem pena, feito outro bicho sem olho e sem dente. Nem um nem outro parece ser pleno ou escasso dentro de nós. Nossas emoções fortes abrem as grades de nossas almas e soltam ora o bicho bravo ora o bicho manso.
Soltar o urso nos deve ser evento raríssimo; o bichinho manso, que reza e que sabe beijar, deve viver nos excessos de nossas presenças emotivas. Demudar-se na ventania que derruba a casa é silêncio suscitante e fica para se contar a história de um tormento vivido. Noticiadora, a prece leva para o alto o que não desejamos fazer com nossas fraquezas.
Cerceio os males que ainda ando a fazer, como forte tronco decepador. Olho um rouxinol que canta e aí posso ver a lua do meio-dia e o sol da meia-noite porque minha imaginação tem chaves e conhece as portas da felicidade. Ao noticiador mofoso, que só nos traz notícias cambaias, fecho o trinco e ele desaparece entre nós; vai-se embora enchendo as estradas do sem fim e do sem volta, bichando os horizontes que cruzar.
Fazer tardar-nos chegar um sorriso, alimentar o desgoverno de um pranto infundado, prender lembranças tristes, soluçar no trancafiar de iras, esfacelar as estantes do coração e vomitar os presentes recebidos nos carinhos do viver, algemar-se para não ter a liberdade de procurar a vida, beijar a tentação e o tormento, morar ao lado do descaso, morrer antes que a vida se renove com a ressuscitação dos anos, tudo faz parte de um barco furado, sem vela, sem leme, no desgoverno pleno de uma perda sem fim.
Porei no coração tudo o que me for dado como proveitoso. Continuarei despregando do corpo tudo que, como espinho de ànsia, cobrir-me pela incerteza. Saltarei valas onde ferver a hipocrisia do que não me deviam ter ensinado os opulentos, porque me interessa mais ser um colibri sem culpas ao enfrentar um monstruoso tufão, do que nadar em calmas águas de um oceano que guarda as facas pontiagudas de corpos que porventura morram perfurados sob a dor abafada dessas águas profundas mas que podem renovar-se.
Valha-me Deus e que eu seja bom como uma flor desabrochada que, após mostrar-se ao mundo com sua cor e seu cheiro, não reclama as pétalas derrubadas pelo vento que dilui o seu perfume mas leva para longe as sementes de sua eterna santidade compromissada com tantos outros renasceres felizes, belos e tão cheirosos de outras vidas que aprenderão a beijar o perfume de muitas outras rosas emergidas nos silêncios flóridos doutras primaveras.
Quem tiver olhos para enxergar que veja. Quem tiver ouvidos para ouvir, que escute; nariz já não perdóo se não o possuir, porque senão somente o vento, diluidor do perfume das flores, será privilegiado, e o cheiro da felicidade da vida não nos chegará para nos tirar de uma dor e nos presentear com o sorriso paciente brotado dos recuperados. Põe, ó sol, tua luz viva no espelho da minha consciência para que não seja mais tão solitário, que não me venha uma grande multidão que flora nos meus transes oníricos, confabular comigo em todas as vigílias que me permitirem sonhar com as cousas agradáveis e firmes que devem caber no coração do bicho- homem que pode ser, se quiser, um mansinho urso polar ou um perigoso colibri que fura os olhos dos que vêem o que não devem.

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