EM-FAMÍLIA-A-QUATRO
APODRECER DE PRAZER...
- Vinde cá as duas...
Assim, isso,
deitai-vos aqui ao pé de mim...
Como os idiotas de todos os tempos
é sempre emocionante repetir a dose
do afrancesado "em-família-a-três"
para utilizar ao extremo
meus muito sensíveis apêndices...
A outra...
Essa intermitente estouvada,
agora, só vem de longe a longe,
foge, abandona-me, despreza-me,
esquecida do todo-todo que lhe dei...
Seria esta a altura ideal,
convosco tão permanentes,
para consumar o próximo passo:
o almejado "em-família-a-quatro"...
Oh... Isso... Lindas,
queridas, que bom, que bom...
Nem sei como descrever
o meu gozo e o vosso...
Que bom... Fazei-fazei...
Ai... Ai... Ai...
Vá, gatinhas,
Estou na maior...
Agora, vistam-se e vão dar um passeio...
Quero sair
e não posso mostrar ao mundo
que ando convosco...
Vá... Até logo... Sim?!...
* * *
A preparar-me para sair,
dou de caras com ela a entrar.
Até parece que esteve a ver
toda a cena anterior com as rivais...
O meu cão,
Com uma luzinha irónica no olhar,
bem enquadrado à entrada da porta do quarto,
tem na boca a peúga azul
que eu em vão já estava farto de procurar...
- Anda cá meu sacaninha,
vá, dá cá a meia...
Tal como me fizesse um grande favor,
com o rabo-a-dar, o Zap-Zap aproximou-se
e depositou a peúga sobre o tapete, a meus pés...
Num ápice majestoso,
Impacientemente ávida,
ei-la, poderosa, a tomar-me inteiro
sem que eu dê por isso,
a inundar-me a alma de indizível bem-estar,
a alegria, essa megera incrível,
quando, inesperadamente,
resolve fazer amor comigo.
Que pena...
Por mais que intente,
ainda não consegui
deitar as três comigo...
* * *
Tempo: Torre, deveras, o que é que mais buscas tu?...
Torre: Como os frutos que têm sorte, Mestre, busco e rebusco apodrecer de prazer...
António Torre da Guia
|