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Contos-->Confusão em um caso às escuras -- 23/05/2001 - 23:45 (Cláudia Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sempre que o telefone tocava, ele percebia que a sua mulher mudava de comportamento. Ficava um pouco nervosa, abaixava o tom da voz, e às vezes dizia que ligaria depois. Quando ele perguntava quem era ao telefone, ela respondia que se tratava de uma amiga.

O comportamento da sua mulher mudara muito ultimamente. Estava mais alegre e mais despachada. Há tempos não a via tão vaidosa. Isso tudo começou a gerar desconfianças nele. Um dia ela apareceu com um relógio novo dizendo que ganhara de uma amiga. Ele deu um sorriso amarelo, se controlando. O ciúme começava a crescer e ele já não tinha controle sobre os seus pensamentos.

Ele era um homem calado, e tinha um temperamento vingativo e egoísta. E por mais que ela se esforçasse para agir normalmente, era impossível não deixar de notar mudanças em seu comportamento. Ela havia encontrado um razão para a sua vida tão vazia. Infelizmente não tivera nenhum filho e nunca fora feliz em seu casamento. Após tanto tempo sentia-se entusiasmada e viva.

***
Todas as noites quando ela adormecia, ele ficava por um bom tempo a observá-la alimentando pensamentos terríveis. Em sua cabeça já articulara toda a vingança contra o canalha que estava preenchendo o coração da sua mulher. Ao olhar para ela tudo o que queria era poder ouvir um pensamento que fosse. Quem sabe entrar em um sonho seu e ter a revelação de tudo o que passava em sua cabeça. Estava atordoado. Resolveu ouvir o conselho de um amigo e contratar um detetive. Foi este mesmo amigo quem cuidou de tudo.

***

Em um outro dia ele recebeu um telefonema do seu amigo marcando um encontro com o detetive. Seria em um restaurante no centro da cidade às oito horas da noite. Finalmente o caso seria esclarecido. Seu amigo já lhe havia passado uma foto dela em um restaurante com um executivo de meia-idade e boa aparência. Estava sendo difícil para ele se controlar, mas era um homem de sangue frio e esperaria a hora certa para agir e acabar de uma vez por todas com tudo aquilo.

Naquele dia ligou para a mulher dizendo que tinha trabalho extra, e que ela não se preocupasse, pois ele chegaria um pouco mais tarde.

***
Chegou ao restaurante, dirigiu-se à mesa conforme o combinado e pediu algo para beber. De repente todas as luzes se apagaram. “Não poderia haver uma hora melhor para um apagão?” - se perguntou, impaciente.

Imediatamente foram providenciadas lamparinas para iluminar o ambiente. E ele ficou esperando ali, à meia-luz. Após alguns minutos um homem chegou até a sua mesa e sentou-se.

- Desculpe-me pelo atraso. Sabe como é o trânsito nessa cidade! – estendeu a mão entregando-lhe o seu cartão.

- Tudo bem. Eu quero que vá direto ao assunto, sem rodeios. Estou muito ansioso.

- Eu sei como é. Isso é de se esperar. Todos os dias encontro com pessoas na mesma situação que você. Isso é algo capaz de abalar as estruturas de qualquer um – respondeu com uma voz compreensiva

- O que conseguiu para mim?

- Bom, ela tem estado muito ocupada ultimamente. Mas tem ainda algumas horas disponíveis.

- É mesmo??? - Perguntou o marido com espanto.

- Sim. Todos os dias aparecem clientes novos.

- Então ela se encontra com mais de um?

- É claro! Ela, como todas as outras, às vezes atende dois ou mais por dia, são profissionais.

A essa altura o marido estava totalmente arrasado, mas resolveu prosseguir com mais uma pergunta.

- E quanto custa o serviço?

- Isso varia. O valor é um de dia, e outro de noite. Vai depender muito do número de horas ao acompanhante. Também deve ser levado em conta o que cada um quer. Cada um tem uma necessidade diferente e ela é muito cuidadosa.

O homem não poderia imaginar o semblante desfigurado do marido, pois a penumbra escondia um pouco o seu rosto. O sangue dele estava em ebulição.

Então o homem prosseguiu:

- O senhor sabe como é. Este trabalho é muito concorrido. Mas o trabalho dela e das outras é de qualidade. É muito difícil encontrar um preço razoável principalmente aqui nesta cidade.

- Você precisa ser tão direto? Será que não pode respeitar a situação que estou passando?? – indagou rispidamente o marido – Para mim basta! – levantou-se e saiu.

O homem permaneceu ali no escuro, sem entender muito a reação do marido. – É cada um que me aparece! Que perda de tempo!

***

Ela mal podia acreditar em tudo o que estava acontecendo. Por anos vivera subjugada e humilhada pelo marido que a impedia de trabalhar, cercando-a de proibições, a ponto de tomar decisões por si, anulando-a não só como mulher mas como ser humano. Estava entusiasmada com a nova sociedade que fizera com a sua melhor amiga. Não era fácil esconder isso do marido, mas nunca se sentira tão alegre e entusiasmada. Valia a pena todo risco. E aquela adrenalina lhe fazia muito bem. Cada uma ficara responsável por uma parte do trabalho. Enquanto ela fazia os contatos pessoalmente e por telefone, a sua sócia se encarregava de executar todo o trabalho.

***
Quando ele chegou do restaurante e entrou em casa, parecia outra pessoa. Não parava de esbravejar e ameaçar a sua mulher com palavras ofensivas e violentas. Ela estava apavorada.

- Você vai me contar tudo! Gritou ele – Quero saber quando você começou com essa vida dissimulada, sua traidora!

- Mas meu querido, não há nada demais! Nunca pensei que você ficaria tão bravo por causa disso.

- O que??? - Gritou ainda com mais força. - Você não tem um pingo de vergonha???

- Eu estava esperando o momento certo para contar tudo a você!

Quanto mais ela tentava se justificar, mais ele se enervava e quebrava as coisas. A situação parecia incontrolável. Ela chorava e se encolhia em um canto da sala. Nunca vira o seu marido tão violento assim.

- Como descobriu? Ela perguntou entre lágrimas.

Ele retirou o cartão do bolso e jogou na cara dela. – Você pensa que sou idiota?

- Não estou entendendo – ela disse olhando para o cartão.

Naquele momento o telefone tocou. Era o detetive, ligando do restaurante e se desculpando pelo atraso. Resolveu esclarecer tudo ali mesmo, por telefone.

- Sua mulher tem uma sociedade com uma amiga. Elas abriram um Boufet há cerca de dois meses. Ela está com a ficha limpa. É isso – finalizou o detetive com uma voz monótona, sem imaginar a confusão no outro lado da linha.

Arrancando bruscamente o cartão da mão dela, ele leu boquiaberto o que estava escrito:

SERVICO DE ACOMPANHAMENTO A IDOSOS. TENHA UMA ENFERMEIRA A SUA DISPOSICAO.


*****************

Claudia Azevedo
maio de 2001

http://communities.msn.com.br/claudinhahomepage





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