A FAMA DA CORUJA
Renato Ferraz
Lá no interior, onde eu morava
Quando à noite a coruja piava
Diziam que algo de ruim aconteceria
Ou seja, algum morador logo morreria
Quanto menor a cidade, maior era a confusão
Afinal, todos se conhecem como a palma da mão
Nas rodas de conversa, saía o nome do candidato
Nessa noite ninguém dormia até se consumar o fato.
E assim era esse mau agouro uma famosa profecia
Quando a rasga-mortalha chegava, todo mundo tremia
Alguns diziam que ela é uma bruxa disfarçada
Atribuíam mil e uma culpas àquela pobre coitada
Contudo o seu pio significa apenas que ela quer copular
Também pode significar o espaço que ela quer dominar
Os índios, ao contrário, creditavam-lhe boa ação
E os gregos lhe atribuíam sabedoria e veneração.
A coruja é parceira na saúde, é predadora do rato
Também devora pombos, mas sempre pagou o pato.
Em relação a gente, a sua audição é mais acurada
Sua nitidez visual também é bastante destacada
Foi por algum tempo à Deusa Atena associada
O Dracma, a moeda grega, a tinha desenhada
Enfim, muitas foram sacrificadas pela sua má fama
Eu mesmo não conhecia esse seu verdadeiro drama.
A natureza foi criada com bastante sabedoria
Justiça seja feita â coruja, ainda que tardia
E assim, na vida, há outros fatos correlatos
É só se virar e a gente se depara com os fatos
|