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cronicas-->É tão complexo ser-se simples -- 13/08/2007 - 18:55 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É tão complexo ser-se simples

Um dia desses em que as lembranças nostálgicas nos invadem a alma, pensei a respeito da tradição familiar e senti um peso forte apertando-me o peito. Como as coisas mudam! O desinteresse em guardar as lembranças boas parece tão fugaz e não recompensador, que nos esquecemos até para que existimos.
Quando eu era menino, lembro-me, de que a palavra "latinistas" me soava forte. Minha velha mãe referia-se a eles como honoráveis e imprescindíveis ao ensino do Português. Hoje, alguns deles, pouquíssimos, rememoram os prazeres do ex-ofício e não são mais tão distinguidos socialmente como outrora.
Um professor sempre distante do alunado, porém compromissado com a docência, hoje vive diferente, arredio à lousa e embrenhado nas trilhas eletrónicas de computadores que apostam até em substituir seus criadores.
O Juiz, esse quase imaculado ser que nem está muito em público podia, hoje se vê cometendo injustiças e bebendo em mesa de botequim. Deram um par de óculos à Justiça. Que horror! Preferi-a imparcial! Como são ousados esses pedaços de pedaços!
O padre, autoridade maior do que a lei nas cidades do interior, hoje, fora a pedofilia, só está nos noticiários brigando para destituir do Vaticano a obrigatoriedade do celibato. Até a oração foi mudada. Assiste-se à missa pela televisão, confessa-se pela internet e peca-se dentro das igrejas. O dízimo parece ser o novo rei. O poder chega a calar as profecias. Criam-se rumos novos. Miséria de fatos!
O amor, esse até nos envergonha lembrá-lo. É jóia rara, imemorável e indigesta. A humanidade buscou, na pressa da conquista do poder, a luz da sobrevivência. O gozo da carne parece ser a mercadoria unanimemente aceita como a mais importante. O homem desviou-se do amor admirável e belo pelo qual fora feito e trazido ao mundo.
A amizade, o companheirismo, as conversas desinteressadas nos fins de tarde entre as famílias, as retretas vespertinas dos domingos nos coretos municipais, a melodia das serenatas de amor à sombra do luar, nas janelas, o respeito dos compadres, a força das bênçãos que os filhos e afilhados pediam aos seus pais e padrinhos, tudo isso se foi. É uma pena que tantos gestos saudáveis, tantos atos lícitos, tanto cheiro bom tenham-se ido da rotina sadia dos seres humanos, levados pelo vento. A vida moderna atrelou-se às mazelas da informação de massa. A televisão ensina o desprezível, as ruas tiram-nos o sossego, e a fé cada dia mais vai embora dos nossos corações.
Resta-nos a instituição "Família". Nada, creio eu, pode ser reparado senão com o uso de seus pincéis. A urdidura de uma nova engenharia recriadora parece querer brotar de suas teias. O homem não nasceu para ser andorinha solitária de verões claros e quentes. Ele veio de dois que vieram de tantos outros encantadores: as estrelas, o mar, a lua, o sol, tantos deuses, todos eles vindos de um só Deus.
Ainda alimento esperanças de ver um mundo melhor, vergado diante do espelho da retidão de caráter, da família sacralizada pelos corações dos homens, do amor à natureza. Um mundo onde a competição entre os seres não precise matar ou ferir para afirmar-se.
Só veremos essa esperança ser lei, quando o homem voltar a dar bom-dia às pessoas por quem passar, levantar-se para dar lugar aos mais velhos, a família voltar a ser forte, a lei for igual para todos - voltando a ser cega como antes, o coreto ouvir a retreta, o professor poder ser quase o dono de sua sala de aula. Afinal, quando forem abolidas todas as condições nefastas desse novo modo descompromissado com o bom viver, renascida no prazer verdadeiro da vida, autêntica essência da camaradagem da boa convivência e sob a égide de um farol encastelado e firme que possa nos cobrir com a sombra da bem-aventurança.
Cabe ao homem querer ser além da criatura e viver a plenitude de sua existência, sendo bom, firme e generoso. Resta-nos saber se esse dia ainda cruzará muitos anos da história recente da humanidade. Ou voltamos à simplicidade e à pureza do tribalismo ou continuaremos a enfrentar e confrontar as teclas da criação, desacreditando até o que ainda há de sair de nossas mãos e de nossas bocas.
Cubramos a experiência do clone com o véu restrito dos laboratórios. A ciência não pode ocupar o lugar de Deus. É preciso que se resgatem o abraço alegre e o aperto de mãos quando os seres se encontram. Finalmente, é preciso viver com a simplicidade da natureza e a fortidão da fé. O homem só poderá tornar-se um gigante da criação quando encontrar a luz da simplicidade do viver de antes, onde existiam abraços e apertos de mãos. É tão simples sermos assim, bastando para isso que nós sejamos as velhas e desassustadas criaturas de ontem.

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