Usina de Letras
Usina de Letras
151 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50618)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140802)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Escrevo assim... -- 13/08/2007 - 18:54 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escrevo assim...

Memória de evocação a postos, papel deitado à mesa, caneta à mão e entre dedos ávidos pela valsa da escritura. Só basta isso para iniciar-se um texto? Não, claro que não! Falta a alma do discurso que deve estar semi-pronta no autor e atiçando a vontade de escrever. Organizo as palavras na cabeça antes que elas saiam. Após saírem, são lapidadas e só então o texto pode ficar pronto. Receita para se escrever? Não. É o meu jeito de fazê-lo. Diferente dele, só em raras ocasiões. Mas elas existem.
Gosto muito das cartas de amor, textos poéticos, bem romànticos. Nem sempre prefiro o discurso oral, apesar de ser fértil e ágil e gostar de encantar meus próprios ouvidos ao lê-los.
Mas não se pode ser assim sempre. As dificuldades, amigas das longas distàncias, nos procuram distrair com o discurso escrito. A fome da saudade às vezes molha o papel onde escrevemos, com doces lágrimas ansiosas e mornas. Fazer o quê? Tem de ser desse modo...! Deixe vir. É assim que o coração caminha com as lembranças mais fortes que há dentro de nós.
Um poema, esse flui naturalmente e sem necessitar de uma segunda chance. Eu gosto do jeito como vem. Não perco tempo e registro todos, por menor e mais pueril que ele se apresente. As palavras parecem estar enfileiradas e prontas na ponta da língua. Ponho o sol na mão, mudo a cor da lua, brinco com as estrelas, seguro o rabo dos cometas, e tudo isso me é possível fazer, dado o encantamento da força que a poesia me fornece. Minha estrada fica bem mais divertida. Vejo até os clarões metafóricos das escuridões que percorro.
Um crime! Qualquer deles. Dói-me falar, falta-me o ameno dos significados. Fico seco, olhos áridos, boca trêmula e as palavras pesam-me muito. Fecho o texto como este parágrafo: áspero e desinteressante, sem qualquer vontade de alongar-me. Nunca me inusita. Tem sabor de um pecado contuso que esmaga até a vida e que, apesar de não ser seu réu, sinto-me co-responsável. Escrevo-o cabisbaixo e triste como se ousasse tocar flauta nos interstícios do choro agonizante de um funeral.
Sobre Deus, eis o que me dá o maior prazer do mundo. Não gosto de findar o texto. Quanto mais letra ponho, mais me apetece fazê-lo. Não tenho pressa nem canso no exercer do ofício. Ele me ajuda, certamente, através do meu anjo de guarda. Dele, não deixo dormir na memória nenhum texto. Meu imaginário pula alegre só em pensar que devo escrever algo Seu.
Por fim, quando estico o pescoço sobre o tronco, levo os dedos aos olhos, inspiro profundo, posso lê-lo sem pressa sob um olhar autocrítico, quase furioso. É aí quando percebo nas entrelinhas o doce e o amargo do que escrevi. Diluo: nem tão doce, nem tão amargo. Quero apenas que outros gostem do que aprontei.
Conforto-me, pois nascerão outros textos novos no meu fazer diário. Virão de temas solitários, metódicos, de palavras arrumadas e loucas para traduzirem o sentimento do autor com zelo e fidelidade. Nem sempre o fazem. Normalmente não afasto as palavras apressadas que assaltam minha vontade nos momentos menos próprios. Sou atencioso para com todas elas. Amo-as confesso publicamente aqui. Gosto de prendê-las e agrupá-las na força frasística do que me parece pronto e publicável. Mas sempre há frechas do desatino, do cansaço, e de outros instantes poucos permissivos com o passar do tempo, para quem registra no papel solícito aquilo que pensa sobre o céu e a terra: as asas do mundo. O desgosto do parágrafo mal acabado, palavras desconexas e soltas no texto são castigo para quem pule o que faz. Entendo também que a perfeição é terra que ninguém conquista.
Minha responsabilidade faz da folha de um jornal ou de um livro algo sério e preservável. Não paro de pensar no que transbordará para o leitor, daquilo que escrevi. Mas confesso, com sabor quase narcíseo, que as palavras elogiosas que me chegam de quem as lê, massageiam meu ego e me dão forças para tecer artigos cada vez menos imperfeitos. É um compromisso que tenho para comigo mesmo. Satisfaz-me ser assim. Depois de ouvir os elogios, sinto a boca açucarada e o coração a pulsar freneticamente: é o êxtase de quem escreve por paixão, um dilantetismo sagrado que, quiescente, dorme em meu peito.
Texto prontíssimo, digitado no disquete, envelope lacrado, lá se vai ele solitário para o jornal, apesar de recheado de informações arquitetadas magnificamente por quem o escreveu. Eu sou apaixonado pela literatura. Confesso que essa arte é um dos mais palatáveis alimentos que transpassam minha alma. Acostumei-me a admirá-la todos os dias e é por isso que não paro de escrever. Quando ouvimos falar que alguém se contaminou com alguma coisa, logo pensamos que esse alguém está doente. Ela me contaminou, mas posso afirmar: estou muito mais sadio do que antes. Ela é o verniz dos momentos alegres por que passo. Dá-me pernas fortes para viajar mundo afora. Está no ar que inspiro. É o tónus que me mantém em pé, firme e forte. É mesmo uma adorável deusa bela e plenamente admirável. Casei-me com ela para nunca mais interromper meus dias de felicidade. É o único procedimento adúltero que minha esposa amiga permitiu fazê-lo. Amo as duas com a precisão de uma mira a laser e o furor de um meteoro desviado da Terra com a qual queria chocar-se. As duas fazem brotar em minha alma vergos infindáveis de esperança na vida e no homem.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui