Que não inquine nossas esperanças essa tal "Fome Zero!" Que não veja ela a nossa irrisão trazida pelo lampadejar de nossa descrença!
Eu diria que ela é a "Fome Um". Está atrás de tudo o que há de ruim. Enfraquece, adoece e mata. Deve estar diante de todos os outros problemas. Nada nos é tão importante. Dar o alimento? Ou com ele pagar-se dias de trabalho planejados na construção de alguma obra contra ela?
Sobram laranjas e uvas no Sul? Troquem-nas por umbus e castanhas do Nordeste. A criminalidade do Sudeste assenta-se na superpopulação de desempregados? Ponham-nos a habitar as solitárias paisagens entre o Norte e o Centro-Oeste do país.
Não se pode, nem se deve é aumentar a alíquota do imposto de renda que recai sobre uma decadente classe média que já desaprendeu a viver bem, como antes, com a pífia desinformação de que é preciso arrecadar-se mais dinheiro para o cofre do tesouro federal. Não concordo com os gastos para equiparar nossos exércitos. Pensar na guerra gera imprudências. Nossas fronteiras devem se encher de fraternidade e ajuda mútua. Se um não começar a pensar assim, o que será do outro que nem sequer pensa?
Se o governo parar para pensar nas soluções para que a fome do Brasil, vai encontrar também famintos na classe média baixa. Algum remédio que se tente fornecer, esse deve ser radical. Contra a fome deve-se fazer uma guerra bem alimentada de bons propósitos. Já se viu que não só dividindo o alimento acaba-se com ela, mas produzindo bem mais alimentos.
Parece que os remédios que se preparam contra a fome moram no título de grandes jornais e abafam outros interesses não noticiáveis. O pobre precisa de lume renovado, atos providentes. Esse grande lumeeiro que acordou a mídia por si só não basta. Atiça, mas não enche barriga de ninguém.
Presidente Lula, acabar com a fome depende só de vontade política. O país possui vasto celeiro próvido. Juntem-se os ingredientes da safra exportável, organize-se um balcão caridoso e transforme o sonho em realidade para não continuarmos assistindo aos nossos irmãozinhos morrerem dormindo. Entre eles podem estar indo grandes vultos, grandes homens, grandes presidentes.
Que país é esse, presidente Lula, que, em se aumentando a tonelagem dos grãos colhidos, se fortalece a morte? Eu sei onde moram os que sabem plantar e colher, e não paro de enxergar as valas miseráveis que absorvem seus corpos mortos pela fome um!
