JANGADEIRO
Renato Ferraz
Se o jangadeiro não vai pescar
Porque algo o impede de ir para o mar
Com fé ele faz uma oração
Para o seu santo de devoção.
Quando ele vai para o alto mar
É lançada a sorte, até a hora de voltar
Se passa muito tempo sem pescar
Fica aborrecido, até pode chorar.
Apesar da vida no mar não ser doce
Para o jangadeiro é como se ela assim fosse
Mesmo que à noite o frio venha lhe maltratar
Ainda assim, ele não consegue desanimar.
Enquanto espera o peixe, ainda consegue sonhar
É com a rede cheia que quer para casa voltar.
É perseverante quando nada consegue pescar
No dia seguinte sabe que irá compensar.
Sua vida é navegar e pegar peixe em alto mar
Somente a morte, um dia, os poderá separar
Se a voz do vente ele ouve soprar
Lembra uma música e começa a cantar
Histórias de amor de sereia ouve sempre falar
Mas é na sua, em terra, que ele não para de pensar
A beleza da noite, ele consegue enxergar
Dos sonhos e da saudade não consegue se livrar
Ás vezes, versos de amor ele cria e decora
Distante do seu amor, um homem também chora
Ele sabe que é um homem forte e destemido
Mas seu coração é igual ao de todos, frágil e sofrido
De manhã cedinho admira ver o sol clarear
É como se a natureza acordasse e bom dia viesse lhe dá
Em alto mar o pior é um temporal enfrentar
Para isso a oração do jangadeiro ele sabe rezar
Quando vai para o mar não tem medo de morrer
Somente os castigos de Deus ele diz temer
Por viver sempre no mar e a ele ter amor
Guarda um sentimento de culpa, sente uma profunda dor
Ama demais a sua jangada, tem orgulho do que é
Considera uma honrosa missão, mas para o filho ele não quer.
Como pai faz qualquer sacrifício para ele estudar
Porque é assim que Deus quer, de pai para filho, a vida deve melhorar.
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