Usina de Letras
Usina de Letras
133 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62225 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22536)

Discursos (3238)

Ensaios - (10364)

Erótico (13569)

Frases (50620)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140803)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Depois do tempo -- 13/08/2007 - 18:29 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Depois do Tempo

Como imperador e administrador da vida, o tempo passa rápido, limitando-se a nos deixar saudades do que ficou para trás. As experiências vão se acumulando e nos deixando um tanto sábios, mas muito mais próximos do término da vida. Uma lastimável corrente ígnea nos prende à terra e, para ela, voltamos todos, implacavelmente, cumprindo as profecias do pó que volta sempre, acordando-nos do sono profundo da mortalidade que vivemos.
Desfalece-me a coragem quando pressinto estar à beira de ir a esse pó. Uma tristeza miraculosa desperta-me com um belíssimo sonho, esplêndido convite ao inusitado e forte desejo de me imortalizar.
Sinto que mudou o pensamento e, dentro de mim, efervesce outra vontade menos arredia. Estou a ser visitado por uma nova realidade que traz consigo uma outra esperança. É- me oferecida uma crença inovadora e forte. Sinto que reviver torna-se prazeroso demais. Nem tudo se acaba e vai para o pó, tão desgovernadamente assim. Acho explicações mais convincentes, abrem-se janelas ensolaradas e os ventos do horizonte que vejo agora, vêm bater-me à face gentilmente. Encorajo-me e vejo a terra fria como algo esperado, imutável, mas cheio de novas explicações e com o poder de nos enviar a outros belos sonhos, pouco imagináveis pelo corpo dos sentidos voláteis que não consegue sentir diferente.
Passam-me, encaixando-se definitivamente, outras palavras do saber. Entro no grande pórtico da sabedoria da vida e viajo estupefato com tantas verdades misteriosas que antes não queria saber. Vejo o prazer de crer e aceito que ele me tornará imortal. Misturo, no inconformismo da terra fria, o fólego que a imortalidade me dá, turbino a vontade e torno-me um ser quase perfeito. Não consigo esquecer ainda a monotonia do silêncio do campo santo, farto da podridão da mortalidade, do que se acaba...
Mas é preciso caminhar com o tempo. O moinho está girando e tenho sede. Jogo-me fortificado na vasta planície da alma e simplesmente caminho sereno. Estou começando a me entender melhor. Lado a lado com o senhor tempo, ando sem ser agora destruído. É companheiro inseparável até o pó, após o qual, passarei a ser senhor da eternidade e não mais achá-lo.
Agora, crendo na imortalidade da alma, renovo-me e dou grandes vóos. Passeio nas reuniões mediúnicas, nas filosofias religiosas, nos contos que a vida faz e vou vivendo. Creio nos mistérios insondáveis da vida após a morte. Sinto-me endeusado pela eternidade para a qual o tempo me leva, deixo de ser pó somente e volto ao pó da essência sábia da outra vida e sinto-me jovialmente resgatado. A onipresença, a onipotência e a onisciência são os meus maiores empuxos, e o Sol e a Lua chegam-me como criaturas do contentamento e do belo, por ainda pertencerem ao tempo. Marcam-me na singeleza do brilho e entorpecem-me na fragilidade das horas. Manso, porém altivo, sou mais que um ser. A criança, que cresceu, agora levita na passarela da profunda transição da vida, procurando a liberdade que ressurgirá infinitamente forte. Após o pó, serei eterno.
O tempo ainda assola nos dias de metamorfose e ainda não posso livrar-me dele. É nessa hora que vejo a mortalidade permanecer viva, embora a compreendendo e dela desviando-me. Ainda caminho. Sou pedra minúscula por sobre a imensa montanha pétrea, mas não me rendo. Sinto a seiva doce do espírito, apesar de ainda estar a beber do amargo da dor do pó de que sou feito. Estou nele ainda, embora já esteja me despedindo.
Vivendo no imaginável sopro que é findável, passo a conhecer mais volumes do que me mostra a pequena réstia da vida que terei fartamente, quando o meu tempo se acabar e a eternidade não sentir mais a sua falta. É nessa hora que entendo o quanto sou importante para Deus. Vejo-me no outro lado do meu espelho e a visão me traz à tona as profundezas do saber e não me canso de admirar o que há de mais pequenino e mortal à minha frente. Delicio-me com os prazeres trazidos pelo minúsculo bico de um colibri e reconheço em minh´alma o peso espiritual de um imenso elefante ressurgido do outro pó da sabedoria que crê no antes inimaginável. O tempo todo do relógio está indo embora.
É..., o tempo quer ir embora. O corpo esmorecido e maltratado pelo tempo convence-me de que é racional ceder e eu concordo, com ele, admitindo tudo. Vou zombar das necrópoles e vou perder o medo. Serei todo o prazer e viverei longe do esquisito, porque bebi do vinho saudável da felicidade. Nem alfa, nem ómega, nem nirvana, nem nada. Sou a criatura à beira do resgate eterno que conhece mais da vida do que da própria morte. A escuridão passou, o tempo desfez-se, passaram-se as futilidades da descrença e continuo a zombar da morte que quer ressurgir após o pó que lhe darei sem raiva, mas na plena satisfação de quem quer amar o infinito.
Vou beber doutros mares e descansar noutras relvas. Das orretas sairei para amplos vales onde com o tempo do Sol e da Lua não poderia ir jamais. Confio no que conseguir escrever nas páginas do vento, com as letras decifráveis da vida, já que sou mais espírito. Construí minhas próprias asas e preparei-me para voar por sobre as eternas sombras dos deuses que deverei visitar no infinito. Verdadeiros cofres de mistérios.
Lembrei-me das coisas racionais que a consciência me fez expulsar nos dias vividos. Vi os atalhos que a vida deu, sorri lembrando-me de alguns e chorei com outros. Tudo passa, nada pode ser mudado, porque é a terra quem os cobrirá agora.
Não terei mais outubros, nem o tempo. Porei os pés alados noutra dimensão forte em que creio agora. As Luas que verei e os Sóis que admirarei, serão bem diferentes. Esses olhos presos a esses sentimentos não verão as coisas dos outros olhos e dos outros sentimentos.
A mala pronta, a crença soberana, a razão aguçada, a voz indo embora, a coragem vivendo, o medo partindo, a terra avisando, a alma sorrindo. É o espírito que se foi, o pó que ficou, as letras que deixo no papel sem sabor. Não sei se ainda volto..., só sei que já me vou.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui