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cronicas-->O Desvirginar Desavisado -- 13/08/2007 - 18:25 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Desvirginar Desavisado

Biruca, o preto motorista de alvíssima alma, recebera as ordens do meu velho pai e tinha que as cumprir à risca. Era complexa a ordem que ele recebera e eu, em inocente donzelice, desconhecia todo o plano que cercava os meus quatorze anos de idade. Ia ser desvirginado e não sabia.
Morava em uma grande chácara na zona da mata pernambucana. Cursava o último ano ginasial e me preparava para ingressar em um seminário Salesiano que exigia, como pré-requisito número um, a virgindade do pretendente vocacionado. Quando anunciei ao meu pai o meu desejo de ser padre, o mundo caiu. Imagine o leitor que eu era o único filho homem e responsável pela perpetuação da família, custasse o que custasse. Só se esqueceram de falar-me dessas cousas antes de eu tomar aquela decisão que, para mim, naquele momento da minha vida, era a mais acertada, embora não saiba dizer a mim mesmo se ela ainda não seria a mais importante hoje. É uma pena que o celibato ainda viva nos meandros das leis da minha Igreja.
Pronto! Meia hora antes das sete horas da noite de uma sexta-feira de começo de dezembro, fui avisado pelo Biruca de que tínhamos de fazer um passeio diferente. Curioso apenas aceitei ir e pulei no automóvel com uma ànsia louca. Talvez já fosse o sexo despertando após receber aquela missão. Não nego que senti um fricassê de sentimentos dentro da alma, junto a um tremendo medo de sentir dor na hora do ato sexual. Fiz-me de macho e enveredei, falsamente destemido, dentro da noite, no destino que ainda não sabia a essas alturas para que lado ficava.
Queria chegar, sentia medo, mas queria! Queria que já estivesse de volta e cumprido a quase obrigação que ainda me era muito obscuramente obscena. Não podia negar fogo ao episódio. Inspirei fundo, pedi coragem ao cupido mais próximo de mim e continuei a viagem ao lado do motorista que, cantarolando músicas bregas, queria demonstrar-me, talvez, confiança e tranquilidade.
Sabia o que ia fazer, mas não decifrava o entendimento. Tinha apenas o despertar da adolescência e nada mais. Estava talvez sendo usado e não sabia. A mácula que ficaria, me afastaria do sacerdócio via casa Salesiana e eu nem me lembrei de lembrar-me disso.
Antes do final, paramos, talvez no propósito da viagem rumo ao desconhecido, em uma mesa de bar. Espantei-me por estar ali. As mesas estavam ainda vazias, e a garçonete me servia com uma discrição meio forçada. Até aí, nada de muito doloroso, exceto o que o pensamento maquinava encontrar logo mais. Tomei dois copos de cerveja. Era muito para um adolescente, mas tomei. Fi-lo imbuído da mesma inocência que carregava dentro de mim, no trajeto que cumpria, rumo ao desfecho final. Era uma poesia aquela noite, e eu a temia muito. Não queria sofrer fisicamente e era isso o que amedrontava minha pouca sabedoria de adolescente virgem.
Tragada a bebida, paga a conta, saímos dali. Senti, pela primeira vez, que o coração, apesar de compassado, batia mais forte dentro do peito. Aconteceria algo com o meu corpo que finalmente me faria diferente dos outros coleguinhas do colégio. O que seria? Ah!..., que maldoso tempo aquele que demorou tanto a passar!
Eram quase onze horas da noite quando Biruca parou o carro em frente a uma casa popular. Tive medo; pressenti que seria ali o meu desvirginamento. Quis pedir para voltar e tive vergonha e assim deixei as coisas acontecerem dentro do meu medo de marinheiro de primeira viagem. Daquela casinha saiu uma linda jovem loira, de olhos azulados, trazendo molas nos quadris que me impressionaram os olhos. Ouviu confabulações do motorista, riu e olhou para mim em seguida. Quis saber o teor da conversa, mas não pude.
Ele, sacanamente, deu-me a chave do carro e pediu-me que eu o pusesse alguns metros dali e nele me demorasse um pouco a fim de aguardar a grande novidade da noite. Tremi; juro que quis chorar. Fiz-me de forte e segurei aquela barra, sem poder correr ou gritar.
Ela chegou vestida em um lindo vestido de jérsei estampado com vivas corres, abriu a porta do carro, sorriu e perguntou se podia entrar. Após receber a confirmação, o fez corajosamente como alguém que já conhecia o ofício a fundo. Minha voz quis desaparecer; ela pressentiu que eu estava com medo e tentou tranquilizar-me ao máximo. Fomos para o banco de trás do carro e lá nos divertimos muito. Meia hora depois eu não era mais o mesmo e, para minha decepção, eu não havia enxergado sangue na roupa ou dor no corpo manso e inocente que começava a conhecer o fogo selvagem do sentimento que vinha da carne.
Três dias após o acontecimento, livre do rótulo fechado da donzelice, pude, infelizmente, sentir a dor da doença temida e proibida de ser deixada no corpo são de um adolescente limpo que queria viver no gozo de outros prazeres da vida, como o sacerdócio. Havia sido contaminado pelas doenças do sexo de gente grande e chorei na micção do trino dia do pós-prazer que havia me oferecido tão gratuitamente meu querido pai, através da cumplicidade do saudoso Biruca. Fiz-me homem entre os homens.

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