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Cronicas-->A Missa Dominical -- 13/08/2007 - 18:24 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Missa Dominical

O verão sempre chegava belo. Caiava os dias, dando-lhes um brilho tão especial que se gravava na memória, bem facilmente. As chuvas chegavam enxeridas, somente no seu fim, anunciando o inverno. A cidadela interiorana nos motivava para o passeio dominical; mas havia algumas regrinhas de bom menino a serem cumpridas antes de se divertir.
A missa era sempre a obrigação primeira. Era uma pena que não ia de livre e espontànea vontade, mas, uma vez estando dentro da Igreja Matriz, a sensação era outra e até esquecia-me do tempo. Altos padres canadenses tomavam conta da paróquia e eram também diferentes. Lembro-me de que certa vez, quando vi um deles fumando um grosso charuto, me espantei. Corri para casa e disse a minha saudosa mãe o que acabara de ver. Espantava-me a modernidade daquele pastor que se lançava a fazer o impensável aos olhos de um menor cristão naqueles idos.
Se por acaso eu quisesse ir ao cinema, assistir a um bom filme, normalmente uma chanchada da Atlàntida, ou a um belo bangue-bangue repleto de índios ou ao clássico Tarzan, dificilmente em cinema Scolpe colorido, tinha que antes ir à missa rezar pelos pecados cometidos no dia-a-dia, e lembrar-me de Deus. O convívio no leito de uma família católica cristã tinha dessas coisas que eu, na minha meninice, não queria entender.
Era nessas horas que eu sempre me lembrava do amigo Macário que, após insistentes pedidos, ia assistir à missa por mim e, depois do seu término, passava-me as informações sobre a homilia do pároco. Eu, atento, ouvia todas as informações do meu amiguinho fiel. Que bom! O compromisso estava cumprido. Restava-me agora enganar a minha linda mãezinha e dizer-lhe da homilia, quando fosse por ela indagado, muito embora não tivesse assistido à missa. Pecava!
Chegava em casa, suado e melado de terra, apesar de, falsamente, estar vindo da igreja. Era então inquirido sobre o que havia se passado nela, ao que respondia sem pestanejar, cumprindo as obrigações de inocente cristão fujão que sempre fui. Fiz tudo isso em nome do divertimento dominical e imbuído de uma inocência tão densa que, quero crer, não serei condenado por isso. Hoje procuro, duplamente, recompensar o Senhor, não só aos domingos, mas em todos os dias de minha vida de adulto pecador que sou. Enxergo os reflexos das minhas faltas para com Deus, mas não deixo de louvá-Lo sempre.
Finda toda a maratona, podia enfim ir ao cinema, comer pipocas, chupar laranjas e rir até urinar nas calças, assistindo às ótimas chanchadas da Atlàntida que nos traziam Zé Trindade, Oscarito e tantas outras estrelas iluminadas do velho cinema brasileiro.
Retornava liso e cansado do dia. A televisão ainda estava longe de nós e rezar e dormir era tudo a se fazer nos fins das noites de domingo que vivi na minha alva infància a qual me traz saudades e saudades. É uma pena que não volte mais.
Ser cristão, para mim passava por essas peripécias, muito embora recheadas de uma doce inocência que só Deus conhecia. À noite, antes do deitar, ajoelhava-me no silêncio do quarto escuro e pedia perdão por tudo o que havia feito de errado e, leve, podia dormir ao lado do meu anjo da guarda, mansamente, no conforto que a oração me dava. Hoje, o meu anjo, cujas asas parecem ter crescido muito, voa mais do que dorme junto a mim. Perambulo pelas madrugadas, em insónias que me dão os dias modernos e a pressa que me consome, diminuindo uma noite não tão bem dormida como fazia sempre nas da minha infància. Restam-me o saudosismo e os versos que a memória me permite fazer, e é imbuído desse sentimento que diminuo o desprazer por não mais ter aqueles memoráveis dias de pequeno anjo errante. A Igreja me ficou permissiva, o sorriso hoje me é escasso e a alegria, procuro-a em todos os instantes que vivo, sempre em busca de alguma coisa boa.
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