Desesperança* 

Quero espaço e somente encontro zona

De atrito. Não consigo acalmar meu

Gênio. Debato só num Coliseu

Que sufoca, amedronta e desmorona.

No teto aberto, sem telha nem lona,

Afasto-me de Deus (pareço ateu);

Entendo que a ilusão se foi, morreu,

Que a vida nada mais me proporciona.

Na rua, observo todos a passar

Como formiga, sempre num vaivém

Incessante, no mesmo caminhar...

Na longa fila do ônibus, do trem,

Muitos aguardam -- algo vai chegar!

E eu?.. espero você, que nunca vem.

* Brasília, DF, 11/06/2021. Publicado, também, na Agenda Literária 1995, Rio de Janeiro (RJ): Litteris Editora, 1994, fev/20; "Saldunes", 2ª edição, Campinas (SP): Editora Komedi, 2006, p. 37; e no "Trem e o imaginário IV (verso e prosa)", Goiânia (GO): Editora Kelps, 2016, p. 24 (Academia Ferroviária de Letras, organizadoras Juçara Valverde & Lydia Simionato, 2016).