LAMENTO DA TRISTE SECA
Renato Ferraz
Mais uma noite de agonia
Olho triste para o céu
Rogo a Deus uma promessa
Que mande chuva pro sertão.
Já não aguentamos mais.
O chão está rachando de tão seco
O pasto acabou as últimas folhagens
As criações morreram de fraqueza.
Quando o dia amanhece
Acordo cedo cheio de incerteza
Lembro dias melhores
De colheita e mesa farta.
No céu eu vejo algumas nuvens
Mas elas apressadas logo se dispersam
Meu ímpeto é de voar e trazê-las
Para o chão bem juntinho dos meus pés.
Não sei porque é sempre assim
Um ano chove e tudo fica verde
Depois muda tudo e é esse castigo
Será nossa sina sofrer, Meu Deus?
Sigo meu destino com minha fé
Vou para a roça limpar o mato
Ainda mantenho viva a esperança
Quem sabe não acontece um milagre.
Oh! Como é triste ver a família assim
Sem ter o que comer nem o que fazer
As crianças só o couro e o osso
Com mais um ano de estiagem.
Eu acredito na vontade de Deus
Mas ele bem que podia obrigar
Os políticos ajudarem a gente
Com tanta água debaixo do chão.
Às vezes quero perder a esperança
Mas sei que Deus não vai me faltar
E no próximo ano chuva vai mandar.
Prá gente voltar a colher e sorrir.
|