"Os múltiplos Beuys" é o título de uma exposição que fica no Sesc Rio Arte até o dia 27 deste mês de maio de 2001. Para o Jornal do Brasil, Joseph Beuys seria "o mais importante artista alemão do pós-guerra". Não sem trair arraigados preconceitos, o jornalista Martinus Schmidt dá a notícia aos alemães, carregando no tempero da ironia.
O título em alemão: "Beuys Hut am Zuckerhut"
[nota do tradutor]
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Por Martinus Schmidt (DIE WELT online, 15/05/2001)
Trad.: zé pedro antunes
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No Brasil, quase tudo o que vem da Europa é amado como manifestação cultural.
Mesmo requentadas encenações de óperas são motivo de júbilo para os amantes da música, apenas porque chegam da Alemanha.
Mas muito especialmente se preza o ímpeto exaltado, o extraordinário e o místico.
E a filosofia não é nenhuma exceção. Quem conhece Kant ou Leibniz?
Só um marginal como Nietzsche pode ser tido como o maior, se não como o único filósofo alemão pelos brasileiros - até mesmo nas universidades, um bom terço dos estudos é dedicada a esse gênio infeliz.
Assim, também Joseph Beuys, que estaria completando 80 anos de idade, pode ser tido como o artista da Alemanha Federal por excelência, como "o mais importante artista alemão do pós-guerra", como escreve o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro.
"Os Múltiplos Beuys" [o articulista encontra dificuldade na tradução do título], assim se chama a exposição no Sesc Rio Arte em Copacabana, que acaba de ser aberta ao público para ficar até o dia 27 de maio.
O enfant terrible da cena artística, que em 1971 foi banido da Escola Superior de Arte por Johannes Rau, o então Ministro das Ciências de Düsseldorf, só por pacifista e oposicionista já ocuparia um lugar privilegiado no mais íntimo dos brasileiros, anarquistas, que preferem ocultar um fugitivo a entregá-lo à polícia.
Beuys, o piloto da Força Aérea Alemã abatido na Criméia em 1942, e tratado pelos tártaros com feltro e sebo.
Beuys, que queria superar a distância entre objeto artístico e ser humano.
Beuys, cantor da paz, paletó e chapéu, que só depunha, se tanto, diante do Tribunal.
Mas este multifacetado praticante de ações artísticas e incansável didático não é apresentado, no Sesc, por nenhum de seus compatriotas. Quem o apresenta é a italiana Paola Colacurcio, que ao longo de onze anos o acompanhou em suas viagens a Nápoles e que, desde 1995, vive no Brasil.
É a primeira exposição de Beuys no país. Depois de passagens por São Paulo, Vitória e Brasília, ela chega agora ao Rio de Janeiro, metrópole que alguns insistem em descrever como a mais bela cidade do mundo.
Entre os 47 objetos expostos, estão também as caixas com as garrafas de água Evervess e a última obra do artista, a Bateria de Capri.
Paola apresenta também vídeos com ações de Beuys, entre eles, a última conversa que teve com o artista em Nápoles, pouco antes de sua morte em janeiro de 1986.
"Sua obra", diz a italiana, "revela a ruptura entre o ser humano e a realidade que o circunda. Mas, nela, a realidade se apresenta muito mais complexa e supõe uma interpretação de alcance universal, trate-se da natureza, do ser humano ou da técnica, do presente ou do passado".
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