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Contos-->OS DEZENOVE DO FORTE DE COPACABANA -- 16/08/2016 - 16:30 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
    
  O senhor Camargo nasceu e viveu no Rio de Janeiro. Já aposentado, adquiriu o hábito de sempre aos domingos frequentar a Confeitaria Colombo do Forte de Copacabana. Ele gostava do café, gostava dos doces, da vista do mar e, principalmente, gostava da sua infância no Forte. Sua mente alcançava uma distância maior do que um possível disparo dos canhões Krupp ali instalados, cujas balas poderiam atingir vinte e três quilômetros... e quando  sentava na parte de fora da confeitaria, sempre lembrava do seu pai narrar o episódio da história do Brasil que chamaram de “ Os dezoito do forte de Copacabana”. Dezessete militares, no início do século passado, saíram daquela confeitaria, para enfrentar um exército de três mil homens. Enfrentaram e foram mortos. “Foram assassinados sem jamais se renderem. Permaneceram até o fim com o seu ideal democrático” – repetia o pai.
  O menino Camargo sempre se impressionou com a história e sobretudo com o civil Otávio Correia: “Ele não tinha nenhuma relação com a causa... apenas viu o ato heroico dos militares, aderiu a rebelião, ganhou um fuzil Mauser, um terno preto e chapéu e foi um dos primeiros a ser atingido pelo exército com um tiro no coração. Aliás, foi o único a receber o tiro no coração. Sua imagem está na foto histórica”.
  O senhor Camargo cogitava: “Quais as ideias passaram na cabeça daquele homem, e porque caminhava rumo ao fuzilamento? Brigou com a noiva e quis provar quando o amor vence todas as guerras ou saiu bêbado, depois de uma noitada em um cabaré, deslumbrou-se e percebeu que a vida significava sentir um enjoo no cais, passar por uma ressaca oceânica até chegar a uma refrega em frente ao mar? Estando tudo ali ao seu redor, ao mesmo tempo, porque não pedir um fuzil ?” 
  Na confeitaria era bom delirar.
  Talvez por causa destas dúvidas, vindas da infância, no último domingo, dia 05, o senhor Camargo sentiu-se mal na Confeitaria e saiu dali com dores no peito. Caminhou devagar pelo mesmo calçadão da batalha,  a mesma praia de 1922 e as coincidências fizeram ainda mais sentido quando ele projetou estar na condição do segundo civil da revolta, o desconhecido décimo nono combatente, aquele não agraciado como o indispensável fuzil Mauser.  Sentiu isto e, muito mais decepcionado pela ausência da arma, caminhou mais um pouco e sozinho, sem fotografias, perto da estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, caiu morto, atingido pelo projétil certeiro do infarto.
  O senhor Camargo tinha setenta anos. Deixa mulher e três sobrinhos. Seu primeiro nome era Otávio. O primeiro nome era outra coincidência. Uma estranha coincidência com o civil famoso. 
  E apenas o civil de 1922, concluiu algo ainda impossível de antever naquela altura da história do mundo: dali para frente, a vida se resumiria a fotografias.

DO LIVRO: "TOUROS EM COPACABANA"  
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