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Contos-->A ANTIGA GAROTA DE IPANEMA -- 05/08/2016 - 16:48 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
             De manhã  andar pela praia de Ipanema é inspirador, mas quando anoitece e você está sozinha em um conjugado, sendo ainda recém-casada, a sensação é outra. Sobe dentro da gente um medo de perder o controle, desesperar por causa da porta do apartamento aberta.
      Mônica pensa assim e sai da cama para verificar a tranca da porta. Fechada. Ela respira fundo. A porta fechada garante a tranquilidade da sua noite até o marido voltar.
      Amanhã Mônica caminhará pelo bairro, visitará a banca de flores na rua Visconde de Pirajá, achará o mundo que se enche de graça, como fala a canção. Um segredo que vem por causa do sol, do vento batendo nos rostos... Agora quando anoitece é diferente – pensa Mônica. O apartamento pequeno vira  alvo de ladrão, um bandido andou à espreita e quer entrar nesse dormitório pela porta principal...  toda aberta.
      Mônica levanta da cama novamente para averiguar a tranca. Talvez haja uma falha em todos os ferrolhos do mundo, talvez ela tenha aberto a porta pensando estar fechando e se não fechar neste momento... o prejuízo será inevitável, porque o ladrão subirá as escadas. Trará uma flor, o malandro. O agrado não significará nada, pois ele levará tudo: as joias do seu porta-joias, os seus sapatos novos, as lembranças boas da cidade do Rio.
      -  Meu Deus... está fechado! A chave  na fechadura...
      Ah, o Rio de Janeiro nas manhãs do ano de 1963 vale uma canção.  Na canção todas as mulheres do mundo devem ser amadas, porque todas são um pouco cariocas. Mesmo as casadas são cariocas, mesmo as nascidas em outra cidade que esperam a volta do marido depois das nove da noite. É preciso ter medo apenas depois da nove, porque a escuridão é um problema.  Deixa os apartamentos abertos e as janelas faíscam; provocam as mulheres casadas há três meses, com 22 anos de idade. Surge uma aflição por não serem mais solteiras, quando as portas eram problemas da casa dos pais.
      Agora os acessos pertencem as mulheres casadas e estão abertos. Eles abriram com o vento.
      Mônica se levanta novamente para fechar o seu apartamento. Poderia empurrar o sofá. O bandido entrará mesmo assim e qual será sua defesa de esposa, se mora no terceiro andar e não pode sair voando. O ladrão ignora a existência de esposas voadoras. Elas nem sabem girar ferrolhos, principalmente as garotas de Ipanema.
     A porta está bem trancada, com duas voltas. Foi por acaso a tranca. Mônica não lembra quando fechou.
     Amanhã a previsão é de sol no Rio. Um sol limpo cintilará no Morro Dois Irmãos. Mas o problema vem com a noite quando este apartamento alugado tão barato fica aberto. E fica aberto porque o aluguel é barato. Tudo tão claro.
      O apartamento deve estar aberto- conclui Mônica e isso por causa do lixo de hoje, jogado na lixeira do prédio. Foi tanto lixo até algo sobrar: a porta suja e marcada. Ladrões não se incomodam com as portas do Rio de Janeiro, porque as portas sujas foram deixadas abertas pelas mãos das esposas recém-casadas.
     Mônica se levanta no escuro. Já sabe o caminho. A porta está fechada. Fechada. Trancada com aquela chave cujo chaveiro é um barquinho azul.
     Já estamos na primavera do Rio de Janeiro. Isto significa maridos na rua. Mônica decide retornar a cama, aumentar o volume do rádio e rezar. Toca a canção do "Lobo bobo". Mônica conclui: " Ah, minha reza foi tanta para a porta se abrir. É o fim!” O fim entrará sem bater. Não adianta esta certeza. Mas Deus perdoará a sua pobre filha. Ela sempre amou os pais, casou por amor, porque o seu noivo parecia um lobo bom, embora depois da tragédia, do roubo seguido de morte, ele venha se casar com outra mulher, mais jovem, dona de chaves mais seguras... e sua primeira esposa se desmancha...nem lembrança, nem canção.

      - O que você faz encolhida debaixo dos lençóis? – pergunta o marido.

     Mônica responde chorando:

     - Eu não me casei pra ficar sozinha neste apartamento! Eu não sou uma porta, bandido!


DO LIVRO: "TOUROS EM COPACABANA"

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