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Cronicas-->MÃE VIRTUAL -- 10/01/2001 - 01:01 (Roberto Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MÃE VIRTUAL


Ser mãe - experiência única?. Mãe, palavra agridoce de sabor diverso. Mãe!... Mesmo a que por circunstàncias abandona o nascituro ou, no limite da dor doou seu sangue rebento. E a que rejeita, maltrata, mata uma vida indefesa? É mãe. Há dois tipos de mães (fora mães-de-santo), no Brasil: a que distribui Ferrari ao `pimpolho´, empurra-lhe cruzeiros pelo Caribe, farras de arromba nas altas rodas da "socite", colégios caros e formação de indiferença.
Despacha-o, no primeiro malote para estudar no exterior e fica no telefone fazendo escàndalo. Espalha pra Deus e o mundo que o filho foi pros "Esteites" e, até ensaia cacoetes com a língua de Shakespeare. É o máximo. Esta é que é mãe, no conceito moderno de consumo em que, a hipocrisia supre o ego vazio - estereótipo da degradação moral. E o restante... São mães? As que dão luz aos filhos em barracos improvisados em total estado de miséria.
Qual o futuro dessas crianças? A que escapa da inanição, com certeza, cai nas garras do crime organizado. Vira traficante. Parir por parir, uma porca também pare. É mãe, uma porca? É. E o frei Beto explica a diferença: "a estrutura social que preserva a distància entre a casa-grande e a senzala - 10% da população concentra 47% da renda nacional. E somem se a isso a ganància" de uma elite arrogante que não viveu o drama de uma guerra ou revolução civil.
O governo não quer que a população excluída participe condignamente da renda nacional. "A renda nacional está em torno de US$5.500 - ou seja, um tem três galinhas e dois não tem nenhuma", diz o frei franciscano. Mas ser mãe é mesmo uma dádiva e, em comemoração pelo seu dia, o comércio conta os lucros. Os pais espicham a grana. Elas merecem, nove meses com o chuchudo coiceando na barriga. Deitar requer exercício de paciência, andar incomoda - o fólego aperta, cansa, enjoa - dói todas as partes do corpo. E o parto? Não parto. Nasce o ente querido? Semelhança dos dois, cópia fiel da pobreza.
Raimundo, Arnaldina... Não importa. O destino está selado - se não morre antes de cinco é escravo do crime, da elite. E, justifica-se: no lado privilegiado da face social, a gestação não depende mais de mãe, ou barriga de aluguel. Basta um vidro, alguns espermas e um óvulo, seja do que for, para que se realize a façanha da vida pródiga dos felizardos. Na encomenda, pode-se escolher a altura, o grau de inteligência, a cor dos olhos e dos cabelos do futuro espertalhão. Naturalmente, o pacote vem completo: o filho encomendado. Se quiser, pode trazer traços de um ancestral da família, ou sangue de príncipe dinamarquês.
Recorrendo à gravidez virtual, há enorme chance de emprenhar de si mesmo: digitomaníaco, chat-ação, e-mailcistose aguda. Precisará só de Winchester plugado na rede e Zip - vem um Hacker, uma Esquizofrênica, via Moldem. O restante é periférico: favelados e pacientes do SUS. Ainda assim, nada disso tira a função de mãe? Ao contrário, ela continua com seu atrativo comercial infalível. É que a esperteza é um dom da natureza - sempre haverá espetáculos de hipocrisia, a explorar vantagens.
Entre a mãe abastarda e a abandonada, há uma enorme distància: a primeira é magnànima, venerada e exemplo de amor ideal. A outra, esquecimento, indiferença e amargura, aberração da natureza. Cumpre predestinação natural só a esta reservada. Estorvo - compaixão do sentimentalismo moral. Mas, no universo infinito, há um lugar especial reservado a quem em seu ventre gesta a vida. E que, apesar da clonagem artificial, possa o filho olhar a face progenitora e abraçar-lhe efusivamente.
Não como gratidão, mas em sentimento no fundo do coração. "Mãe! Só lhe sabemos o quanto era importante quando não mais a temos entre nós", de "Álbum de Família", escrito por um monsenhor chileno. Em que se completa: filho é uma jóia preciosa, extensão de nossa vida, portanto, merece todo o carinho que se possa dar, porém deve ser tratado com energia, inteligência. O "sim" e o "não" são uma realidade para ser vivida, sem trauma. Sem o que, alcançam os vigores da lei. Daí, os Pit-boys e pit-girls moderninhos.
Roberto Carvalho, Jornalista e Escritor

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