Poema dolente
maria da graça almeida
Dentro de mim, há um poema dolente.
sem rima, sem nexo, sem metro, inflexo.
É poema inerte, opaco, sem brisa,
que breve definha e presto agoniza.
Indigente do hoje, carente do ontem,
é poema inútil, sem convicção, sem horizonte.
Do verbo sem alternativa, tênue tentativa
que, evasiva, finda-se e a ação não materializa.
Poema dorido que, do poeta, sem a anuência,
esmaece ressentido na essência...
Poema que dentro dos ouvidos zumbe,
e, desnutrido, enfermo, enfim sucumbe...
Poema que ninguém compreende,
escrito com as letras do vento,
poema que ora morto inda pretende
dar à vida algum alento.
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