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Contos-->LÂMPADAS -- 02/06/2016 - 04:03 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Saio finalmente rumo à outra face da terra. O guia risca a Divisa da cidade de Diadema com São Paulo. O ônibus segue a avenida Kennedy e desço perto de Diadema. Meu relógio marca quatro da tarde.


Agora não seguirei mais os ponteiros da civilização, aquela que procura registros em cartões de ponto. Seguirei os meus instintos.


Percorro a avenida, entro em ruas estreitas e vislumbro longos terrenos baldios. Muitas casas foram demolidas. Esgotos a céu aberto criam sulcos esverdeados no calçamento. Prossigo a vistoria. O muro de um dos terrenos abre-se para uma viela que se liga a rua paralela. Os moradores usam o caminho e economizam duas quadras. Já é noite. Deparo-me com vagalumes.


A lembrança que eu tenho de vaga-lumes é muito antiga. Quando eu tinha nove anos, em 1971 vi alguns pirilampos em uma chácara na cidade de Itapecerica. Decerto aqueles vagalumes estão aqui. Foram transportados até essa divisa de São Paulo, acessada por vielas de tempo, espaço e esgoto.


Retorno à avenida. Um ônibus estaciona. Passageiros descem do veículo com pacotes, casacos e crianças. Caminham lentamente. Alguns riem. Outros querem dividir uma cerveja com os amigos.


Se eu tivesse nascido em outro lugar, levado outra vida. Teria sido outra pessoa? Não. Então o que justifica a condenação divina pelos pecados que praticamos se não temos responsabilidade pela nossa existência casual?


E nossa alma? Ela depende dessa vida acidental que despencou sobre nós ou seria uma substância intangível que carregamos? Temos várias almas ou não temos nenhuma? Passar fome revigora nossa alma? O sexo na abundância dos peixes enfraquece a nossa carne?


Volto aos vaga-lumes. Vagalumes são o que são. Nada é aleatório em sua condição. Nesta lógica estes insetos possuem uma alma maior do que a minha. Eles brilham agora e pronto. Aqui e ali.


Que uma rã colossal solte a língua e engula esses vagalumes. Eu estalarei os ossos e continuarei vivo. Sei que estou vivo.


Chego enfim à periferia da cidade.

DO LIVRO:"DEUS, A FERIDA E A PERIFERIA"   publicado pela Editora Multifoco e exposto na Usina


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