Tu és meu dogma.
Teu amor, minha religião.
Tua cama, meu altar.
Ofereço-me em sacrifício,
Como animal na fria pedra,
aguardando o abate,
em louvor de espíritos santos.
Tua voz em meus ouvidos,
oração cantada por querubins,
ao som de harpas e clarins,
a embalar nossos movimentos sorrateiros,
de serpentes do paraíso.
Teus dedos pecaminosos
operam milagres em meu corpo pagão,
que reza contrito pelo teu perdão.
Tua boca, hóstia mais pura,
que exorciza meu amor,
na comunhão de nossos desejos,
abençoados por todos os santos.
Tua carne e teu sangue,
meu pão e meu vinho,
meu alimento e minha força,
dádivas de várias vidas,
que nunca descansam sem me encontrar.
Teu amor, redenção absoluta,
penitência que nunca darei por finda,
atravessando o tempo e a morte,
e vindo buscar-me em vida,
para acompanhar-te eternamente,
feito zumbis felizes,
que não querem acordar.
Minha alma abraça a tua,
queima, flutua, ilumina, conduz.;
dança criança, no solo sagrado,
num batismo de fogo, de corpos marcados
por beijos manchados de sangue e de cruz.
E ressuscitados na magia de exuberantes procissões,
carregamos nossas imagens,
confessamos nossos delitos,
comungamos nossas fantasias,
canonizados pela felicidade atéia
desse poema herege.
Lílian Maial
Do livro "Enfim, renasci!" - Editora Impetus - jul/2000 |