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Contos-->PECADORES GUARDAM OS DOMINGOS -- 08/04/2016 - 08:53 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Mal dormi. Acordo às nove da manhã. Tomo café com bolachas. É sábado. O tempo frio desocupa a cidade. A beleza das ruas desertas é tocante. Nota-se o asfalto roxo. Dias roxos me trazem lembranças e começo a acreditar que um dia as cores da minha primeira infância vencerão a tristeza. Deus não será mais a máquina que conheço e funcionou durante muitos anos em minha vida.

Sigo até o ponto de ônibus em frente à favela do aeroporto. Entro no veículo e outro passageiro sai. O homem despede-se do motorista. Vai chegar tarde no trabalho.

Neste fim de semana não tenho o direito de perscrutar nenhuma parte do subúrbio. Volto para dormir e durmo. Atravesso o sábado, acordo às três da tarde de domingo. Acordo gordo, o sono alimenta e a palavra do Senhor chegará aos homens que tem sede de justiça.

Papai não está na sala. Se existe algo sagrado em papai é seu respeito pelos domingos em frente à tevê. Procuro-o em seu quarto. Ele está sentado na ponta da cama e cheira um saco plástico. Não entendo a cena, por instantes, tento enquadrar o seu comportamento. É uma tentativa de suicídio? Está no rol das tentativas de suicídio possíveis? Ninguém morre por afundar o rosto em um saco plástico. Chego mais perto e chuto a lata de cola de sapateiro.

- Papai! O que é isto? O senhor não é moleque.

- Não me incomode!

- Acho que eu vou chamar o juizado de menores.

- Não me incomode! O sapato descolou e eu decidi colar a cabeça.

Papai ri. Ele sabe que aquilo é vício de pivetes. Mas como posso condená-lo? Não vejo diferenças entre delírios. As sensações de prazer pela inalação da cola de sapateiro já chegaram as narinas dos santos e pastores.

Papai volta a rir. Parece que um espírito intruso quer invadir o seu corpo. Aliás, por pouco este duende não se manifesta. Papai chega à janela e solta um arroto.

 


- Leve esta merda daqui.

Peguei a lata. Olho a gosma e penso em cheirar também. No impulso lembro da Marina e aquela gosma torna-se a lembrança de um jato de esperma sobre as suas costas. No dia havia uma grande toalha debaixo da cama. O esperma chegou ao cabelo e grudou em seu braço esquerdo. Marina disse que esperma tinha cheiro de cândida. Não quis verificar. Também não quis saber quais os elementos comparativos ela tinha para confirmar a cândida no nariz. Jogo a lembrança no lixo.

Fecho o espírito dentro da lata.

 


TRECHO DO LIVRO:"DEUS, A FERIDA E A PERIFERIA"


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