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Cartas-->Carta à borboleta -- 11/04/2004 - 16:42 (Isaias Zuza Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Carta

Uma vez foi só poesia o que meus olhos viam. E o ar era tão pesado que tudo parava no leito da vida; cada gesto era um recorte, um desenho, cada movimento era de fúria e lentidão; cada gesto era puro gesso. Tão pesado, tão pesado, tão pesado o ar que o mundo era devagar e as pessoas gelavam... e as pessoas paravam.
Mas quem pairava sobre a cegueira dos homens? Quem tinha asas de marcar nos ares uns riscos invisíveis no contorno de um vôo que só um poema pode delimitar? Era tudo devagar aos meus olhos, a vaga rodando, rodando duro, rodando pesado e rodando leve, e macio. Então, na descoberta do que movimenta o ar sob meus olhos borboleta eu vi. Um bater de asas provocando vento, um avançar adiante caindo em cada momento, como quem constrói as horas e os dias. E então eu vi como quem sai de um esconderijo obscuro, como quem sai da larva, e morava perto do lodo, criatura de seda. Não sei como, não sei quando; mas como o homem tanto explicar de si também te fazes de beleza e ambos, eu de homem e tu de asas, não sabemos do que somos feitos, de qual explosão surgiram nossas matérias de peles diferentes. Eu sou um homem, e você é uma mulher. Eu caminho tremendo, só você que bate asas. Eu levanto poeira, só você que faz viração. Um faz parar o tempo e faz tudo parecer flor, e outro é ponteio no pêndulo dos números e transforma as coisas que já são fins... Agora, com laivos de para sempre, através dos olhos teus, uma vez é o teu corpo, é a verdade, e não há poesia, o que eu vejo...
Eu vejo leve você, corpo sem facho de luz, sem sonhos, que isso é para quem brinca de Deus; e eu sou agora também a criatura e não o criador; sou, então, personagem e não somente a letra. Tenho o conteúdo e a forma, estas já não são para ti, mas delas quero apenas a ação, conter humano ser e quem for a mim ter, como que formar a vida ambos, e carregar no ventre...
Escuta, no entanto, o que eu te digo no poema, no verso em branco, no poema que eu escrevo, no amor que eu tenho. Há falhas no poema da vida em dizer-te bem, no meu jeito de unir cada feito no céu e cada feito no mar e cada feito na terra ao que sou em um único momento do que sou feito. E por que nada pára sou assim de muitos jeitos: fogo e água e suas respectivas fúrias na natureza. Mas você é tão calma, tão calma que começo a entender porque somos contidos apenas um, e porque o que era pesado aos meus olhos era leve aos teus; devagar aos meus olhos [mas ainda assim fugaz], rápido aos teus [e, contudo, fica eterno no mundo e amor dos homens].
Ai, borboleta, lê estes poemas e escuta-os, como soubesse ter certeza da distância pouca e da semprecidade mútua do que são os sentires de dois amantes.
Onde, na terra e no mar, a evolução dos homens? O que existe, existe somente no ar, vive no céu, perto das nuvens.. Mas o que existe dá sua seda à lama e à alga, e dá a sensação das brisas e dos tornados a quem teve seu destino traçado no pó e no sal. Hoje, eu sei que existo. Acabou a poesia, o que há é o que vejo, e o que vejo é, na essência, fora da letra que faço no horizonte para minha imitação de Deus, que Deus não há mais. Sou homem e tenho um coração que aquece, e esquece... cada palavra, cada promessa de amor para que eu possa morrer d’amar. A promessa é devagar e longe, o morrer vai sem que percebamos e perto. O amor é coisa do mundo, e o amar, acontece somente entre duas pessoas. Um é pedra, substantivo, pesado, parado no tempo; o outro, verbo, ágil, não termina do pulso da gente, estações do ano...amar verbo
intransitivo. Eu sou você; você, eu. E ficamos no mesmo ser, mesmo corpo, sem transitar no que sou e tu és; mas virá para sempre o que era dois apenas um. Nisso transita o homem, na sua posição de não ser Deus, não ser somente espírito, mas também tê-lo unido à carne. O sexo dos anjos é falso, o meu sexo que é verdadeiro e te quer. Só então me faço homem e borboleta; você borboleta e mulher. Saio da gente igual a mim e construo somente poesia; sai de casulo e faz a seda, você, Vanessa.
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