O homem de Neandertal percebe no pôr do sol
o nexo entre o crepúsculo
e os seus pelos ruivos.
O homem de Neandertal repara então
que há rosas ao seu redor
e a cor das flores chega longe ao poente.
O Neandertal quase entende
a simetria do dia
e sente que algo mais sai do jardim:
uma delicadeza que se está no ocaso,
também está na beira do rio
e à frente do morro.
O Neandertal não cessa a surpresa
e decide tocar a rosa
salvar o primeiro contato
do seu puro acaso.
O Neandertal treme, roça a pétala
e a maciez carnosa da peça
percorre o seu braço.
Mas aquilo não é carne -
pensa o Neandertal que, de súbito,
rompe a pedra lascada
e supera sua pré-história rugosa.
Ele verdadeiramente ama agora uma mulher,
outra rosa na beira do rio.
DO LIVRO: ADVERSO E OUTROS MOMENTOS
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